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Na imagem vê-se a fachada da Capela de São João d'Arga com muitas raparigas vestidas com o traje regional de Lavradeira a ladear o caminho que dá acesso à capela

Santuários e Romarias

A haver algo que caraterize a comunidade do Alto Minho, na sua cultura popular e na religiosidade, não estranharia a ninguém falarmos nas romarias como parte significativa da identidade histórica deste território e suas gentes.
As igrejas, capelas e santuários de romaria ou peregrinação estão em todo o território do Alto Minho. A presença deste património arquitetural religioso dá-nos conta da capacidade artística dos pedreiros, mestres canteiros, artistas escultores do imaginário religioso, pintores e entalhadores, originários deste território. É certo terem vindo para aqui artistas e desenhadores dos templos de outras terras. Mas seria impossível ter este património sem os inúmeros mestres canteiros e artistas do Alto Minho. Não é por acaso a finura e beleza de tantos campanários, com os seus coruchéus bulbosos, espalhados pela nossa paisagem. E estes templos são um património material, mas também imaterial e emocional. Há, poderíamos dizer, uma ‘geoestratégia’ do religioso e do mágico neste território. Montes e vales, portelas e extremos, meias encostas e zonas ribeirinhas, lugares profundos, onde brota a fertilidade e os altaneiros, onde a luz e a visão são rainhas, recebem as ermidas e capelas, numa sacralização da terra e do espaço humanizado. 
Depois do tempo do quotidiano existe o tempo da exceção; depois dos caminhos do trabalho e das lides comuns, existe o caminho do santuário e da capela da devoção; depois da troca comercial, existe a troca afetiva, o lugar da emoção e da piedade; depois do riso e dor de cada dia, existe a festa e a celebração da vida, na certeza de um sagrado protetor e fonte da saúde. As romarias sintetizam a alma do nosso povo. Caminhar para um local sagrado é conhecer o mundo, as veredas do espaço, a convivialidade social, as obrigações familiares e o compromisso comunitário.
A romaria é a oportunidade para nos descobrirmos e nos darmos a conhecer. Nos sacrifícios e no peregrinar, descobrimos que o corpo tem outras forças e outras necessidades. Mas esse corpo a regenerar e descobrir é o mesmo corpo que dança no terreiro da capela ou santuário; o mesmo corpo que se alimenta da oração e da mesa e refeição da festa; o mesmo corpo que se ultrapassa e se transforma no canto, na música, na partilha e na comunhão com o sagrado da vida em comum e no sagrado para além dessa vida comum.
Na romaria tudo se conjuga, tudo tem sentido e tudo nos ultrapassa. Desde o terreiro e capela/ igreja onde se invoca um santo (materializado numa imagem milagrosa ou numa relíquia) ao qual nos dirigimos, ao nosso companheiro, na figura do romeiro, o crente devoto que pratica rituais ao nosso lado, que antes caminhou connosco na romagem. A romagem que é uma viagem de caráter penitencial no encontro com Deus, através dos santos, uma experiência espiritual e humana hipostasiada no lugar sagrado, na relíquia ou na imagem. Ali, no templo sagrado, participa-se nos rituais religiosos, como a missa, a procissão, o ouvir o sermão e cumprir escrupulosamente a promessa feita. Mas nunca esta experiência nos completaria se não tivéssemos a festa, o arraial, a exuberância da nossa cultura, vivida em plenitude.
É isto a romaria e é isto a nossa cultura. Mudou muito o nosso mundo, mas não tanto que não entendamos os sentidos transmitidos e vividos pelos nossos antepassados!
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