Romaria de Santo Isidoro, S. Pedro de Varais
Data: 23 de julho
Na freguesia de Moledo, concelho de Caminha, celebra-se a Romaria de Santo Isidoro. Tem origem a fama de romaria desta capela nos famosos Clamores de Santo Isidoro, geridos pela Irmandade desta capela. A história refere os célebres clamores a Santo Isidoro desde a Idade Média. A tristemente célebre seca e fome dos séculos XV-XVI afetou profundamente as populações do entorno de Viana do Castelo e Caminha. Não havia água para os animais e para as pessoas, o que provocou tremendas fomes e pestes. Esses eventos estiveram na origem dos Clamores de Santo Isidoro. Os clamores são uma prática devocional popular, de raízes pré-cristãs, que consistem numa oração coletiva (Clamor; cramor; chamores) proferida enquanto se percorre um determinado percurso desde um determinado local sagrado, neste caso a Capela de Santo Isidoro, até um santuário ou capela, previamente previsto e escolhido pela crença de nele existir um santo ou santa de grande devoção, a quem atribuem força milagrosa. Fizeram o voto dos clamores, leigos de várias freguesias deste território, para pedir bons anos agrícolas. Decidiram o lugar de partida numa Capela junto ao mar, entre Gontinhães e Moledo, dedicada a Santo Isidoro. O primeiro Clamor, na segunda sexta-feira da quaresma, tinha por destino S. Pedro de Varais, capela mais tarde integrada na Confraria de Santo Isidoro. Como todo o processo de gestão dos clamores estava integrado na Confraria de Santo Isidoro, passaram os clamores a chamarem-se Clamores de Santo Isidoro. O ritual da caminhada e as vozes de súplica tinham a força do sacrifício e o ato da relação entre os homens e o sagrado, em penitência para obter a graça almejada, neste caso, a superação da seca. Assim se iniciaram os Clamores de Santo Isidoro, e deram razão ao que consta nos Estatutos da Confraria de Santo Isidoro, práticas que continuaram por muitos séculos. A capela de Santo Isidoro, apesar de singela e pequena, ainda hoje é local de peregrinação no dia da sua festa principal, em julho. Aqui vêm romeiros das freguesias vizinhas, e até galegas, ainda crentes na oração que traz bons anos e boas colheitas. Se no passado traziam sal e telhas, hoje trazem a esmolas com que ‘pagam’ as promessas.
Edificado
É um edifício de arquitetura religiosa vernacular, de grande simplicidade, com alpendre. Está a capela junto ao mar e diz-se ser contemporânea da de Santa Tecla – Galiza – Espanha. Tem inscrita a data de 1652, mas será já um restauro da ermida mais antiga. Os estatutos da Irmandade de Santo Isidoro, conhecidos, são um documento do século XVII, mas parecem ser um translado de outros mais antigos.
Toda ela construída em pedra, tem um único altar, dedicado a Santo Isidoro (a que o povo chama também de "Sant'Isidores”). A fama deste templo resulta de ter sido esta Irmandade de Santo Isidoro a escolhida para organizar os clamores a pedir a intercessão divina para não haver fome e peste, devido às más condições climatéricas, principalmente os tempos de seca.
Roteiro dos 12 clamores de Santo Isidoro
1º clamor: 2 a sexta-feira da Quaresma | S. Pedro de Varais | Missa cantada e sermão
2º clamor: 3 a sexta-feira da Quaresma | S. Salvador de Bulhente | Missa cantada e sermão
3º clamor: 4 a sexta-feira da Quaresma | S. Tiago de Cristelo | Missa cantada e sermão
4º clamor: 4 de abril | Festa de Santo Isidoro | Missa solene e sermão
5º clamor: 6 de maio | S. João de Arga | Missa cantada
6º/7º/8º clamor: Ladainhas de maio | Capela de Santo Isidoro e Cruzeiro do Chamor | Ofício de Defuntos Missas
9º clamor: 25 de junho | S. João de Cabanas | Missa
10º clamor: 7 de julho (S. Marçal) | S. Bento de Seixas | Missa
11º clamor: 25 de julho | Capela de Santo Isidoro | Missa e Sermão
12º clamor: 5 de agosto | Sra. da Serra/Orbacém | Missa
Contexto territorial
A posição da Capela de Santo Isidoro, junto ao mar e de fácil acesso, talvez tenha sido a razão para ter sido escolhida para a sua Irmandade organizar os Clamores de súplica pelo bom ano agrícola e pela chuva. Dali radiavam os percursos dos clamores de Santo Isidoro, em direção à montanha, em direção a sul, em direção a norte, para igrejas e conventos, capelas e oratórios, desde os lugares de tradicionais romarias, como S. Bento de Seixas e S. João d’Arga, até ao Convento de Cabanas, em Afife.
Do fim da terra, junto ao mar, partiam os romeiros em clamores, numa geografia do sagrado, como que abarcando toda a terra de Caminha e Viana do Castelo, a veiga fértil do litoral e as leiras e socalcos das montanhas e vales.
Destaque
Capela românica de S. Pedro de Varais
Destacamos a Igreja românica de S. Pedro de Varais, por ser o destino do 1º Clamor de Santo Isidoro. Tem esta igreja uma planta longitudinal composta de nave única e capela-mor quadrangular irregular. A fachada principal termina numa empena truncada por sineira. O portal é de arco quebrado, com duas aduelas sobre imposta saliente, assente em pés direitos e tímpano com cruz hasteada ladeada por dois sinos. O portal é encimado por uma rosácea.
De salientar as pinturas interiores. Pinturas a fresco (século XVI), com figurações humanas de santos (martírio de S. Sebastião) e figuras bíblicas, onde sobressai a figura de Cristo morto no regaço de sua mãe. Também tem figurações geométricas e outros motivos decorativos. O retábulo do altar-mor é barroco, de estilo nacional.
Está construída num romântico tardio, 2ª fase do foco do Alto Minho, de caraterísticas claramente rurais, quase sem decoração, só encontrada nos tímpanos e modilhões, bastante rudes. A parte inferior da Capela-mor é mais antiga, como se constata pelos aparelhos construídos de pedras serem diferentes, podendo ser os restos de uma ermida alto-medieval, sendo que o arcosólio poderá datar-se do século XIV.
A primeira ermida será dos séculos X-XII. No século XII (1128), um documento refere-a como uma ermida pertencente ao Convento de Vitorino das Donas, na Ribeira Lima. Nos séculos XII/XIII faz-se a reconstrução e ampliação da capela. Estando ligada à freguesia de Vile e Azevedo, com sucessivos patronatos, foi depois integrada na Confraria de Santo Isidoro, que pertencia às duas paróquias. Integra desde os finais do século XX (1998) o Itinerário Românico da Ribeira Minho.
Contactos
Moledo, Caminha ( Viana do Castelo )
41.82979871027313,-8.874313790510111 (Ver mapa)