Romaria de São João d’Arga

Data: 28 e 29 de agosto

Mosteiro e Romaria de S. João D’Arga

Situado na Serra d’ Arga, a ‘montanha mágica’ desde a antiguidade, o mosteiro de S. João d’Arga pertence à freguesia d’Arga de S. João, Caminha. Neste santuário celebra-se uma das maiores e mais representativas romarias do Alto Minho, nos dias 28 e 29 de agosto: a Romaria de S. João d’Arga. É uma das romarias onde existe a tradição dos romeiros que, chegados junto do mosteiro, cumprem as três voltas à capela, entregam a esmola (ao santo e alguns ao diabo). Mas é a noite de 28 para 29 o grande momento de animação, onde não falta o ‘chiripiti’, uma mistura de aguardente e mel, a animar o baile e o folguedo. A lenda diz que a imagem de S. João apareceu junto do regato, próximo do lugar onde se construiu o templo, passando a chamar-se ribeiro de S. João.

Destaca-se esta festa por duas razões: 

- O situar-se a capela e seus dormitórios (quartéis) num local ermo da montanha, de paisagem ao mesmo tempo idílica e rústica. A localização atraiu os romeiros de longas distâncias, em busca dum espaço mágico, sagrado. Por esta razão, há um território espiritual e cultural das rotas que convergem neste santuário, vindas das povoações próximas e distantes. Se no passado a romaria ao santo que cura todos os males, era realizada por todos os romeiros a pé, na atualidade, apesar da maioria dos presentes chegarem lá em veículos motorizados, ainda há vários grupos de romeiros a seguirem velhas veredas, em diferentes percursos, cantando e folgando, organizados em rusgas ou simples grupos de amigos.

- É esta festividade marcada pelos rituais mais populares, com atualização das mais antigas tradições: as celebrações religiosas, onde se destacam a procissão e o ritual de romaria à volta do templo e posterior beijo da cruz e esmola ao santo; o arraial noturno, na noite de 28 para 29 de agosto, palco único dos cantares ao desafio (as desgarradas), onde a concertina é rainha. Nos últimos anos as Bandas Filarmónicas têm-se destacado, ao oferecerem um outro espetáculo de desafio musical. 

As construções presentes no ‘terreiro’ de S. João d’Arga respondem a várias épocas e fins diversos. 

O Templo Sagrado implanta-se num local que teria sido de cultos pré-cristãos e a primeira ermida terá surgido logo nos primeiros anos da presença cristã. O atual templo é essencialmente de construção românica, como se pode ver pela sua estrutura e pelas portas laterais. São estas portas laterais, românicas, incrustadas no princípio do corpo do templo e imediatamente a seguir à capela-mor com a respetiva cornija e modilhões com cachorros.

O interior, composto na capela-mor por altares e imagens em pedra pintada, como se uma talha dourada fosse, deixa transparecer a exuberância barroca, em forma popular. O frontal da capela é dos finais do século XVIII, tão próximo de outros exemplares de igrejas do Minho.

A Serra d’Arga, uma área de paisagem protegida de âmbito regional, situa-se entre o rio Lima e o rio Coura. Tem uma altitude máxima de 824 metros (Alto do Espinheiro), impondo-se na paisagem pela sua grandiosidade. O granito, o xisto e algum quartzo são as rochas mais comuns. Por ser muito pouco arborizada, tem uma paisagem agreste. Uma paisagem que não indicia a riqueza geológica que guarda, como várias gemas valiosas, ouro, que os romanos exploraram, e volfrâmio, riqueza do século XX, em tempos de guerra. De valor incontornável também na biodiversidade, ela foi sempre a ‘montanha sagrada’ para as gerações de povos que à sua volta existiram. Testemunho disso são os inúmeros santuários e lugares arqueológicos associados a cultos e rituais sagrados.

A caminho do Mosteiro de S. João d’Arga, para os que vêm do lado de Caminha e Âncora, há um penedo, junto da passagem por um carreiro, a que chamam o Penedo do Casamento. É um grande penedo com uma cova no cimo. No passado, as jovens que queriam casar, ao passar para a festa, lançavam uma pedra... Se ela ficasse em cima, casavam naquele ano; se caísse, teriam de esperar tantos anos quantas pedras tinham lançado e caído.

Na capela de S. João d’Arga existe uma imagem do anjo S. Miguel, degolando o demónio. O demónio está muito presente nas narrativas lendárias associadas a esta romaria e a uma porta da capela que foi fechada para não importunar as pessoas. É comum ver romeiros a dar esmola ao S. João d’Arga e àquela imagem de S. Miguel, porque, dizem, "com o demónio não se brinca... nem de mal com o santinho, nem de mal com o demónio!” E, por isso, também lhe dão esmola.