Peregrinação à Senhora da Paz
Data: 25 de maio
Esta festividade, como o próprio nome o diz, não é uma romaria tradicional. Aqui, lugar do Barral, freguesia de Vila Chã, S. João Batista, concelho de Ponte da Barca, celebra-se uma ‘aparição’ de Nossa Senhora a um jovem (na altura da aparição tinha 10 anos), Severino Alves, a 10 e 11 de maio de 1917. Note-se a proximidade das datas com a das ‘aparições’ de Fátima! Também a Virgem, representada iconograficamente sentada e com manto azul, segundo os relatos da visão de Severino, está relacionada como a Mensageira da Paz, pelo que disse e por se viver, nesses anos, a Primeira Guerra Mundial, a Grande Guerra, na qual combatiam jovens da aldeia. Daí o nome pelo qual passou a ser invocada: Nossa Senhora da Paz.
A Festa de Nossa Senhora da Paz é, assim, uma peregrinação do arciprestado de Ponte da Barca. Vai-se a este santuário em peregrinação, no domingo próximo de 10 de maio de cada ano, para celebrar as aparições de Nossa Senhora e sua mensagem. E a grande mensagem da Virgem a Severino Alves foi a seguinte: "Diz aos pastores do monte que rezem sempre o terço, que os homens e mulheres cantem a ESTRELA DO CÉU, e se apeguem comigo, que hei de acudir ao mundo e aplacar a guerra.” É esta a mensagem e a razão de existência do Santuário.
Para além da peregrinação anual, todos os dias visitam este santuário peregrinos das mais variadas origens. Apesar de recente e não ter sido suficientemente valorizado ao longo de décadas, o santuário tem novo templo, chamado de Igreja do Imaculado Coração de Maria. A capela principal, mais pequena, datada dos anos 60 do século XX, é a Capelinha de Nossa Senhora da Paz, perto de uma cripta, local da ‘aparição’. O menino Severino cresceu sempre convicto de que viu Nossa Senhora, contra tudo e contra todos. Não seguiu uma vida consagrada, como pretendiam os promotores deste santuário, mas, casando e tendo filhos, foi até ao fim da vida (faleceu em 1985) um propagador da mensagem da Senhora e devoto cristão.
As ‘aparições’ do Barral e de Fátima estão marcadas pelos tempos conturbados da política do início do séc. XX, pelos conflitos e pela Grande Guerra, pelas epidemias da varíola e tifo que grassavam a Europa e Portugal, pela austeridade e fome da maior parte da população rural. A devoção mariana do povo era grande e a reza do terço uma prática enraizada nas famílias rurais cristãs.
Edificado
Tem este Santuário de Nossa Senhora da Paz dois templos: o primeiro é a Capela de Nossa Senhora da Paz, construída junto do local onde se deram as ‘aparições’. O segundo é a Igreja do Imaculado Coração de Maria. Apesar de ser um santuário de ‘aparições’, o culto e devoção, mesmo mantendo-se na comunidade, ficou, durante décadas, muito fora dos lugares de peregrinação. Apenas se construiu um nicho onde foi colocada uma imagem, 50 anos após a data dos acontecimentos relatados pelo jovem Severino. E só apenas nas celebrações do Congresso Mariano Internacional, nos anos de 1960, se faz, nas comemorações do Cinquentenário de Nossa Senhora de Fátima, uma comunicação sobre as "Aparições do Barral”, como eram então conhecidas. Volta o interesse e constrói-se a primeira Capelinha de Nossa Senhora da Paz, inaugurada a 15 de setembro de 1969. De arquitetura muito simples, com um alpendre à frente, e pouco espaçosa, é decorada com pedras de cristal quartzo, um ex-libres do local. Tem perto uma cripta, local da ‘aparição’.
Com o aumento dos devotos e peregrinos, houve necessidade de um novo templo. Então, nos anos 80/90 do século XX construiu-se a Igreja do Imaculado Coração de Maria (inaugurada ainda em construção no ano de 1988, sendo a torre sineira inaugurada em 1994), um templo moderno, longitudinal, de três naves, onde já há mais espaço, e se destacam os vitrais e os altares de cristal de quartzo.
Houve a intenção, por parte da Confraria de Nossa Senhora da Paz, de organizar um espaço sagrado à volta dos dois principais templos, erigindo estátuas, figuras simbólicas e monumentos celebrativos e de homenagem.
Contexto territorial da romaria
Um local de Peregrinação
O edificado, de alguma forma ajuda a distinguir as tipologias que normalmente caraterizam as festas religiosas no Minho, desde as peregrinações até à festa do patrono de cada freguesia, passando pelas romarias. Quando falamos de romaria, esta tipologia pode distinguir-se pelos seguintes elementos: i. temos um terreiro e capela / igreja onde se invoca um santo (materializado numa imagem milagrosa ou numa relíquia) ao qual se dirigem os romeiros; ii. a figura do romeiro, ou seja, o crente ou devoto que pratica certos rituais, onde se destaca o fazer uma caminhada para essa capela ou igreja, ou seja, fazer a romagem; iii. a romagem, propriamente dita: a viagem de caráter penitencial no encontro com Deus através dos santos, uma experiência espiritual e humana hipostisiada no lugar sagrado, na relíquia ou na imagem; iv. os atos / rituais de culto: realizar tanto os atos individuais que escapam à norma estabelecida pela autoridade eclesial e por muitos classificados como pagãos, e participar nos rituais religiosos, como a missa, na procissão, ouvir o sermão e cumprir escrupulosamente a promessa feita; v. viver a festa lúdica: assistir / participar no arraial, feiras e outros atos festivos, culturais e sociais que não são religiosos.
Muito diferentes são as peregrinações, mesmo que por vezes, dentro das romarias possamos falar de peregrinos, no sentido de romeiros. As peregrinações fazem-se a santuários de grande devoção, criados oficialmente pela Igreja. O ato de peregrinar, ou seja, a caminhada, é ela mesma organizada pela entidade oficial, sendo a parte mais significativa do ritual de celebração religiosa. Se na romaria a viagem do romeiro é de sua iniciativa ou de pequenos grupos organizados, sem interferência eclesial, nas peregrinações há o controlo do percurso e dos rituais desenvolvidos durante esse percurso, onde no final há, imediatamente, o ritual da Missa e conclusão da peregrinação.
O que acontece na Senhora da Paz é uma peregrinação. O Santuário é o ponto de chegada, e o ritual existe para, na caminhada ao Santuário honrar a mensagem da Virgem e da sua presença, celebrando a ‘aparição’. O ritual é o sacrifício praticado pelos crentes para cumprir a mensagem da aparição, transformando as suas vidas. Não é o edificado o centro da peregrinação, mas a liturgia e a mensagem que através dela se passa ao crente. Sendo a igreja da Senhora da Paz recente e nossa contemporânea, prevalece o espaço da aparição à força simbólica do templo.
Destaques
Museu do Quartzo
No ano de 1982 foi inaugurado, num pequeno edifício do espaço do santuário de Nossa Senhora da Paz, a Biblioteca e Museu do Quartzo. A Biblioteca guarda o espólio legado pelo insigne mestre da Universidade de Coimbra, o Padre e Professor Catedrático Avelino Jesus da Costa, natural do Barral e primo do vidente Severino Alves. Medievalista famoso, pelo trabalho na diplomática portuguesa medieval e pela famosa Tese sobre o Arcebispo de Braga, D. Pedro I, renovador da diocese em tempos da ‘restauração cristã’, tinha este grande defensor das Aparições do Barral uma significativa coleção de livros que deixou ao santuário. Foi também ele a valorizar as pedras de cristal de quartzo, saídas de uma pedreira da freguesia, entretanto inativada, e que já singularizavam o altar dos dois templos religiosos. A abundância e dimensão de algumas pedras espantam os romeiros e peregrinos. Por essa razão, construiu-se este Museu do Quartzo onde se encontra a maior coleção de cristais de quartzo do país. Centenas de exemplares poderão ser vistos e apreciados, tanto no interior do museu, como no seu exterior. Não estranha a associação do brilho e ‘luz’ da pedra ao sentido da beleza e da paz, propostos pelas aparições.
Contactos
Freguesia de Vila Chã, Ponte da Barca ( Viana do Castelo )
41.79719186199974,-8.34379558933234 (Ver mapa)