Romaria de S. Bento da Porta Aberta
Data: Primeiro fim-se-semana de julho
Todas as igrejas e capelas que tenham a invocação de S. Bento são procuradas pelos fiéis, tal foi a catequização feita pelos monges beneditinos nos lugares mais afastados dos espaços urbanos, onde fundaram mosteiros. Mas há romarias e romarias a S. Bento! Algumas delas são tão ancestrais e marcantes para o povoamento do território, como a de S. Bento do Ermelo, que dispensavam outros atrativos. Mas os grandes santuários dedicados a S. Bento, como o de terras de Bouro ou este de Paredes de Coura, prosperaram envoltos na magia e força do milagre.
A lenda de S. Bento da Porta Aberta de Cossourado, onde o santo teimou em querer que o seu lugar de devoção estivesse sempre aberto ao peregrino e, por isso, saía para o adro da igreja sempre que lhe fechavam a porta, integra o devoto na preponderância do santuário e força milagrosa do patrono.
De tal forma este S. Bento da Porta Aberta foi reconhecido como milagroso pelo povo, que, havendo tantas capelas dedicadas a S. Bento, nenhuma atraía tantos romeiros e crentes. De todos os lados, do Vale do Minho e do Vale do Lima, de terras mais a sul do Lima e de terras mais a norte do Minho, ou seja, da Galiza, aqui vinham romeiros pedindo a graça da cura a S. Bento. Advogado de muitos males, especializou-se o Santo na cura dos ‘cravos’ (verrugas). Os crentes oferecem as flores com o mesmo nome, de preferência cravos vermelhos, pedindo ou agradecendo a cura.
A grande Procissão, com vários andores, onde se destacam três deles, um de S. Bento para os mais pequenos e outro, do mesmo Santo, levado em ombros por irmãos da Confraria de S. Bento da Porta Aberta, vestidos com trajes negros, como o padroeiro, e outro ainda de Santo Amaro, de grande devoção local.
Edificado
A Capela de S. Bento da Porta Aberta, na freguesia de Cossourado, apresenta-se com uma fachada barroca. O portal sobressai pela composição pétrea, com lintel em arco, encimado por óculo inserido na parte superior do frontão, onde se insere um nicho com o santo protetor. Esta composição arquitetónica reforça a simbologia da ‘Porta’, elemento que orienta toda a fachada da igreja, bem consequente ao título de S. Bento da Porta Aberta! Termina o frontal superior com arcos quebrados invertidos, em cortinado encimado por cruz. A Torre, em três andares, é majestosa, com coruchéu bulboso de fino recorte artístico.
Igreja de uma só nave, longitudinal, separa-se em dois corpos, a nave principal e a capela-mor, com retábulo neoclássico. De cada lado do corpo central do retábulo temos mísulas, uma das quais com a imagem de S. Bento. No teto, em madeira, apresenta uma pintura de S. Bento, na iconografia tradicional. Na nave principal, mais larga do que a capela-mor, destacam-se os dois altares laterais, próximos do arco cruzeiro, e o púlpito, do lado do evangelho.
Compõe o conjunto um adro murado, a que se acede por um escadório bem desenhado. O arvoredo embeleza o espaço e acolhe os romeiros.
Contexto territorial da romaria
Importa analisar a razão de tantas capelas e igrejas existentes no Alto Minho dedicadas a S. Bento. O nosso território foi povoado pelos monges de S. Bento com 16 mosteiros beneditinos, e da ordem de Cister. O processo de evangelização destes monges foi acompanhado pela promoção do seu fundador, associando-o à cura de males relacionados com a saúde. Desta forma, um santo dos mosteiros fez-se amado na religiosidade popular. Também a história da vida de S. Bento contribuiu para esta proximidade da gente do povo ao santo. Tendo ele lutado com o diabo, a sempre presente força do mal, e vendo-se livre de um envenenamento, por graça divina e contribuição do reino animal, foi imediato o reconhecimento dos poderes apotropaicos e propiciatórios em S. Bento.
A devoção a S. Bento, com duas festas, faz-se a 21 de março, dia da sua morte, e a 11 de julho, festa da Trasladação das Relíquias, meses associados à primavera e verão, uma das épocas mais importantes do ciclo agrário. S. Bento, patrono da Europa, é advogado das coisas ruins e dos males desconhecidos, daí a fama de santo milagreiro em problemas raros ligados à saúde: os cravos, antrazes, excrescências carnudas e cancros. Também o invocam contra os maus vizinhos da porta. Santo de grande devoção e de inúmeros romeiros, dele também se diz ser demasiado cioso e até ‘vingativo’ para os que não cumprem as promessas feitas. É esse sentimento de bem cumprir as promessas a explicar o escrupuloso empenho dos romeiros com rituais e ex-votos. Para as doenças da pele, ovos brancos, sal, açúcar ou farinha; para as doenças más (cancro), ex-votos em cera, com as formas do corpo atingidas pela doença.
Ir ao S. Bento da Porta Aberta, em Cossourado, era uma obrigação dos romeiros da vizinhança ou mais afastados. Para a importância deste santuário, recente na história da devoção local, contribuiu o templo – maior do que qualquer capela conhecida a S. Bento; a localização: num extremo e portela entre o Vale do Coura e o do Minho; a devoção e crença no santo milagroso de todos os males ruins. Por isso a sua influência neste território.
Destaque
O Culto a S. Bento, na Medalha e Regra
Os devotos e romeiros trazem os ex-votos prometidos, mas buscam também, no santuário, algo que os proteja no quotidiano das suas terras. Os símbolos apotropaicos (que têm o poder de proteger do mal) relacionados com S. Bento, a Medalha de S. Bento e a Regra de S. Bento (aqui mais a pagela com a sua imagem) guardam-se no interior da roupa, para proteção dos portadores. A medalha funciona como amuleto, tendo no centro a forma de cruz e iniciais de um ensalmo em latim contra o diabo (em português: "Cruz do Patriarca S. Bento//A Santa Cruz seja a minha Luz//Não seja o dragão o meu Guia//Retira-te Satanás//Não me sugiras coisas vãs//Há males que ofereces//Tu mesmo bebas o veneno”. Conta-se que até as bruxas usavam do poder mágico desta medalha para se protegerem da magia negra e do demónio.
A Regra de S. Bento está na base da vida monástica ocidental. Tal era a importância destas regras para a vida de quem queria seguir a santidade, que o povo via nelas (ou num livro com as ‘regrinhas’ ou uma simples imagem de S. Bento) uma proteção para as tentações, funcionando como amuleto de proteção contra a peste e outros males. Ter estes símbolos apotropaicos ou simplesmente vestir o hábito de S. Bento (como fazem os irmãos da confraria) ou nele ser amortalhado, era buscar essa proteção do poder do diabo e procurar a vida eterna junto de Deus. E sempre a reza noturna, feita em família: "São Bentinho milagroso nos livre das coisas ruins, dos males desconhecidos e dos maus vizinhos da porta”!
Contactos
Cossourado, Paredes de Coura ( Viana do Castelo )
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