Santa Rita, Vila Nova de Muía

A devoção a Santa Rita de Cássia estendeu-se por toda a cristandade desde que foi beatificada no ano 1627, em Roma, pelo Papa Urbano VIII e canonizada no ano de 1900, pelo Papa Leão XIII. A sua festa litúrgica é comemorada no dia 22 de maio. São inúmeras as capelas e igrejas dedicadas a esta santa, conhecida como a ‘advogada dos impossíveis’! São tantos os factos improváveis e miraculosos na vida de Santa Rita que nada parece impossível a esta Santa. Desde a morte violenta do marido e a dos dois filhos pela peste, até à entrada miraculosa no convento, entrada que lhe era negada, passando por todos os milagres que aconteciam a quem nela tocava. Vive as dores do Cristo crucificado com a ferida nascida do espinho que se lhe cravou na cabeça. É a esta Santa que os romeiros se confiam, crentes que ela lhes dê a paciência perante os infortúnios da vida, saúde perante a doença e resolva os problemas mais intricados, praticamente impossíveis, que possam surgir.

No alto do santuário de Santa Rita, em Vila nova de Muía, os romeiros acorrem com ex-votos, as rosas vermelhas, e fazem silenciosamente a romaria, carregando para junto dela os problemas que os afligem. O Santuário, ali construído no século XVIII, marca a paisagem circundante e organizou-se num parque de grande acolhimento. Os seus quartéis, hoje bem recuperados, acolhiam os romeiros devotos; as árvores centenárias abrigam da inclemência do tempo e dão a frescura para os convívios de associações e organizações religiosas e civis.

A romaria, celebrada quarenta dias depois da Páscoa, é uma das mais queridas e frequentadas do concelho de Ponte da Barca, depois das festas do concelho. No passado a festa fazia-se na "Fonte Cova”, mas hoje todo o parque do santuário é espaço de romaria.

A capela barroca de Santa Rita será de finais do século XVII, princípios do XVIII. No dia 9 de setembro de 1739 foi passada uma provisão de licença a favor do Padre Gonçalo Leitão, da freguesia de Santa Maria de Vila Nova de Muía, para o Reverendo Pároco lhe benzer um sacrário, para por na capela de Santa Rita de Cássia, para meter a relíquia daquela Santa.

Trata-se de um templo de nave única e torre sineira adossada ao lado do evangelho e encabeça um corpo da igreja que serve, no piso superior, a serviços de apoio aos atos litúrgicos, sacristias e Confraria. A fachada é marcada pelo portal sumptuoso, ladeado, em toda a fachada por quatro janelas, duas na parte inferior e duas na superior. Encima o portal um nicho com a imagem da Padroeira Santa Rita. Esta igreja barroca, tem no seu interior um altar-mor cujo retábulo barroco acolhe a imagem milagrosa a quem os devotos pedem ajuda.

Em frente à fachada apresenta-se uma boa escadaria em pedra, obra posterior, abrindo a igreja ao terreiro do santuário.

A localização do Santuário de Santa Rita dá-lhe preponderância no contexto territorial de Ponte da Barca. Construído no alto de um monte, num parque arborizado e urbanizado para receber multidões, sejam elas de romeiros ou de grupos que aqui vêm celebrar seus convívios, não passa indiferente a todos os que desejam um espaço de tipo ‘monte sagrado’, onde ao património religioso construído da belíssima capela se juntam outras edificações, principalmente os Quartéis de peregrinos, com enorme varanda corrida de madeira, com novas funcionalidades na atualidade. As árvores aqui disponíveis à fruição dos romeiros, como o grande sobreiro, ou os negrilhos e plátanos frondosos, são outro dos patrimónios a valorizar.

Junto com a Capela de Nossa Senhora do Livramento, em Ventozelo, e com o monte de Aboim/ Castelo da Nóbrega, forma este espaço um roteiro de gozo lúdico e patrimonial que pode ainda integrar o velho mosteiro de Vila Nova de Muía. Ou seja, o território cultural abrangido por estes monumentos tem raízes na mais antiga e gloriosa história do nascimento do Reino Português, enquanto velho espaço administrativo e de ocupação religiosa das "Terras da Nóbrega”. Não estranha, por isso, o ser ele, apartir da sua construção no século XVIII, o centro de atracão para as povoações vizinhas, lugar de peregrinação e de romaria. 

Enquanto se sobe a montanha e se passa pelos lugares sagrados faz-se os rituais devocionais; chegados ao topo do monte, experimenta-se a beleza da paisagem do Vale do Lima, por terras da Barca e dos Arcos.

Todos os santuários de peregrinação têm cânticos e rezas bem estabelecidas, algumas delas oficiais, como Hinos (é o caso de Nossa Senhora da Paz), ou jaculatórias e orações em verso, cantadas ou rezadas pelos clamores que anualmente visitavam estes templos. Os lugares e igrejas das romarias não tinham tão frequentemente esses hinos, mas os santos de devoção eram mimados com orações criadas especialmente para eles, invocando a proteção e cura. Muitas destas orações não eram somente rezadas aquando das romarias e clamores, mas diziam-se durante todo o ano, nas lides do campo, ao final das orações familiares, quando as famílias rezavam em conjunto no final do dia. E se os ‘santos de ao pé da porta’ não fazem milagres, os da devoção particular e aqueles que mais eram concorridos pelos pedidos dos devotos, eram frequentemente ‘importunados’. É este o caso de Santa Rita, tão poderosa que ela era nas ‘causas impossíveis’. Daí as várias jaculatórias e rezas com que era brindada:

Ó poderosa e gloriosa Santa Rita chamada Santa das causas impossíveis, advogada dos casos desesperados, auxiliadora da última hora, refúgio e abrigo da dor que arrasta para o abismo do pecado e da desesperança, com toda a confiança em vosso poder junto ao Coração Sagrado de Jesus, a vós recorro no caso difícil e imprevisto, que dolorosamente oprime o meu coração.

(Faça seu pedido)

Alcançai a graça que desejo, pois, sendo-me necessária, eu a quero. Apresentada por vós a minha oração, o meu pedido, por vós que sois tão amada por Deus, certamente será atendido. Dizei a Nosso Senhor que me valerei da graça para melhorar a minha vida e os meus costumes e para cantar na Terra e no Céu a Divina Misericórdia.

Santa Rita das causas impossíveis, intercedei por nós! Amém.