Romaria de Nossa Senhora de Mosteiró
Data: 27 de agosto a 3 de setembro
A freguesia de Cerdal tem grandes festividades por ocasião da Feira de Todos os Santos, no mês de novembro. Mas quando se fala em romaria, logo vem à mente a de Nossa Senhora de Mosteiró, celebrada na igreja do antigo convento franciscano capucho. A localização do santuário, na montanha e num espaço arborizado, dá-lhe todo o cenário dos grandes espaços de romaria. Entre o final de agosto e primeira semana de setembro, os romeiros convergem para esta igreja, invocando a padroeira que assumiu o nome do lugar do próprio convento.
Destacam-se os festejos lúdicos, entre grandes espetáculos e verbenas, em vários arraiais, a tradição de merendeiro, o convívio entre os membros de cada família, e entre os romeiros das terras vizinhas. Mas o que mais impressiona é a grande procissão penitencial, desde a igreja matriz até ao santuário, num percurso de cerca de seis quilómetros, em preparação do espírito religioso de conversão. No domingo, depois da Missa Solene, faz-se a procissão final. É o culminar das celebrações religiosas de preparação, que se iniciaram com a novena preparatória, as procissões de velas e as pregações.
A Confraria de Nossa Senhora de Mosteiró é muito ativa durante todo o ano, com eventos motorizados e convívios gastronómicos, onde prevalecem as bifanas, as tiras de barriga e caldo verde, e as sardinhadas. Aproveitando as condições do espaço arborizado, do ‘parque de merendas’ e dos encantos da montanha, organiza esses eventos para arrecadar os meios com que financia os festejos anuais. A romaria de Nossa Senhora de Mosteiró é o culminar de todo este esforço anual, a grande festa religiosa e popular.
Edificado
Com o fim das ordens religiosas e a decadência do Convento Franciscano Capucho de Nossa Senhora de Mosteiró surgiu a oportunidade para crescer a romaria à patrona deste templo. De igreja conventual passou a Igreja de Santuário e devoção popular. O extraordinário templo, para uma localidade rural, é de arquitetura religiosa maneirista, barroca e neoclássica. As construções que hoje temos nada têm a ver com a primitiva construção medieval, mas resulta das sucessivas remodelações, principalmente nos séculos XVII e XVIII. De planta retangular irregular, com igreja de planta longitudinal, o convento desenvolve-se no seu lado esquerdo. A igreja é antecedida por galilé, e capela-mor mais estreita, com coberturas em falsas abóbadas de berço de madeira. A fachada remata em frontão triangular sem retorno, marcada pelo vão da galilé. O janelão do coro-alto e óculo circular têm molduras de cantaria. Na galilé tem-se acesso à Capela do Senhor dos Passos.
No interior, o púlpito quadrangular assenta em talha dourada de estilo joanino. No lado oposto temos uma estrutura retabular de talha joanina e capela profunda, de dois tramos e cobertura em abóbada. O arco triunfal é de volta perfeita, encimado por sanefão de talha neoclássica, que substituiu o antigo Calvário. Encontra-se ladeado por retábulos de talha dourada do estilo tardo-barroco. Sobressai em todo o templo a capela-mor, com retábulo de talha dourada, do estilo barroco joanino, de planta convexa e três eixos, profusamente ornado por elementos vegetalistas, "putti" e concheados.
Contexto territorial da romaria
Os Franciscanos capuchos sempre tiveram apreço pelos cenóbios imersos na natureza, como o da Serra de Sintra. O Convento de Mosteiró encontrava-se neste lugar ermo, no meio de mata frondosa. Apartados do mundo e bafejados pela beleza do lugar, eram os frades franciscanos convidados à meditação, aos exercícios de contemplação, chegando a Deus pela exuberância da irmã natureza, como bem lhe chamava o pai fundador, S. Francisco. O convento tinha a sua cerca, as casas de apoio, a água abundante e as azenhas. Destacava-se uma capela-fonte, que recebia a linha de água, a correr constantemente.
Os frades melhoraram continuamente o convento, até à sua perda no século XIX. O edifício que chegou até nós segue o esquema dos Conventos da Província da Conceição, nas suas linhas mais simples. O contraste entre a simplicidade das linhas arquiteturais e a exuberância dos retábulos da igreja, principalmente o do altar-mor (que veio do Convento de Santa Clara de Valença), numa linguagem barroca, com elementos joaninos, contrasta com os laterais num tipo de linguagem tardo-barroca, em que elementos barrocos, rococós e neoclássicos se interligam.
Aquilo que era um privilégio dos frades, com a passagem para o domínio da paróquia, passou a ser fonte de interesse dos simples cristãos. As grandes romarias eram a ermidas populares e pequenas; a partir do século XVIII/XIX são estes lugares criados pelos frades e monges a atrair os romeiros. Se para os frades aqueles espaços eram frequentados no quotidiano e neles contemplavam o divino, numa ficção do paraíso, para os crentes das aldeias era uma experiência fora do comum. Visitar em romaria estes santuários significava cortar com o quotidiano e viver os grandes templos e os belíssimos parques conventuais numa experiência de festa. A beleza e dimensão da igreja, a beleza do parque, eram suficientes para chamar os romeiros e reconhecer o poder dos santos patronos.
Destaque
Feira dos Santos de Cerdal
Também chamada de ‘Feira Anual dos Santos de Cerdal’, é uma das mais tradicionais Feiras dos Santos, ou seja, daquelas que se celebram por ocasião da festa litúrgica de Todos os Santos, nos dias 1 e 2 de novembro (dias dos fiéis defuntos e de Todos os Santos) de cada ano. No lugar havia uma feira quinzenal, mas é a feira anual que traz a multidão e o festejo. Dizem que a feira do dia 1 é a ‘feira dos santos’, e a do dia 2 é a ‘feira das trocas’! Por ser uma feira em tempos normalmente frios e chuvosos, muito longe do clima de verão em que são celebradas todas as grandes romarias do Minho, tem esta feira/ romaria particularidades próprias. Temos aqui uma feira secular (documentada nas Memórias Paroquiais de 1758), que desde há muitos anos junta portugueses e galegos, irmanados numa cultura muito próxima.
A feira decorre no Terreiro de São Bento da Lagoa, junto da estrada que liga S. Pedro da Torre (Valença) a Paredes de Coura ou Ponte de Lima, pelas Pedras Finas. É uma feira de fim de colheitas, na antecâmara do inverno, a última romaria do ano. Os feirantes propõem milhares de produtos, ao mesmo tempo que todos podem usufruir de espetáculos e eventos musicais. Junto das tascas, é a música tradicional da desgarrada que impera.
Entre os eventos sobressaem a feira do gado, a corrida de cavalos, verdadeira mostra dos nossos garranos. São muitos os criadores de gado bovino, cavalar, ovino e caprino, de ambas as margens do rio Minho, que ali chegam para vender e ver o que o mercado traz. Era esta uma feira muito importante para os agricultores locais, pois aqui as lavradeiras traziam as suas ‘curiosidades’ para serem vendidas. Entre essas curiosidades temos os dióspiros, as castanhas, as nozes e, particularmente, os famosos pericos dos santos, que são umas peras pequenas endógenas a esta região e com risco de desaparecimento. Todas as estradas convergem para esta Feira dos Santos, onde se vende e compra, ou, simplesmente se dá azo ao folgar.
Juntar a castanha crua, cozida ou assada, os caldos e carnes da época, os pericos e o vinho novo, é ter tudo para uma animada feira festiva. Por isso, marca identitária desta feira, são os ajuntamentos nas tasquinhas e o consequente cantar à desgarrada. Uma feira de produtos, para responder às necessidades das pessoas, mas também uma demonstração da cultura popular, da gastronomia e das tradições orais do Vale do Minho, do Lima e terras galegas.
Contactos
Cerdal, Valença ( Viana do Castelo )
41.977457210384,-8.591756640650583 (Ver mapa)