Romaria de Nossa Senhora da Peneda
Data: 1 a 8 de Setembro
Na freguesia da Gavieira, concelho de Arcos de Valdevez, no lugar da Peneda ergue-se o famoso Santuário de Nossa Senhora da Peneda (Nossa Senhora das Neves). Diz a tradição que ele tem 800 anos, pois atribuem o momento da fundação a um evento ocorrido a 05 de agosto de 1220, hoje património lendário destas terras.
Na freguesia da Gavieira, concelho de Arcos de Valdevez, no lugar da Peneda ergue-se o famoso Santuário de Nossa Senhora da Peneda (Nossa Senhora das Neves). Diz a tradição que ele tem 800 anos, pois atribuem o momento da fundação a um evento ocorrido a 05 de agosto de 1220, hoje património lendário destas terras.
A lenda conta-nos que nesse dia apareceu, a uma menina pastora, Nossa Senhora, em forma de pomba. E, como sempre acontece, pede-lhe a construção de um pequeno templo em sua honra, naquele local. A pobre pastorinha quando conta o que lhe havia acontecido não é acreditada por ninguém. Só depois de a Mãe de Deus lhe ter aparecido novamente, agora em imagem humana, e lhe ter prometido um milagre, e ele ter ocorrido (a cura de uma mulher da aldeia, entravada), é que o povo passou a acreditar e ergue a ermida à santa milagreira. O povo do Cando, por sua vez, aponta um local na montanha, em frente à sua branda, onde, debaixo de uma lapinha, teria aparecido uma imagem de madeira de Nossa Senhora, a que deram o nome de Senhora das Neves, ali abandonada pelos cristãos em fuga aos mouros invasores. Quem a encontrou levou-a para o lugar da Peneda e aí ergueu a ermida, tal era a fama de milagreira da dita imagem.
Com o passar do tempo, transformou-se esta pequena ermida no formoso Santuário e complexo adjacente, com quartéis, escadórios e 20 capelas, que chegaram até nós. O lugar inóspito, à época, deste santuário, deu-lhe uma grande carga mágica, fortemente atrativa para a crença espiritual e experiência do fantástico. Passou de geração em geração a crença na imagem da Senhora Milagrosa, transformando este local num dos santuários da religiosidade popular mais importantes do norte de Portugal. Para aqui vinham e vêm romeiros de todas as terras vizinhas, alguns de terras mais distantes e até de terras da Galiza, tão próxima ao Santuário. A celebridade da romaria assenta em três fatores:
- A crença no poder milagroso da Senhora da Peneda. A devoção ainda hoje é celebrada em pedidos de cura e promessas de retribuição. Vários trabalhos de etnógrafos provam a permanência da crença na relação da promessa a cumprir ("Os Santos esperam, mas não perdoam” – José Pinto).
- A experiência mágica dos rituais de festa na romaria. Convergem para o santuário, a cada festa, as rondas e rusgas de romeiros. Cumprida a promessa, é hora de celebração, com a comensalidade e as performances populares de música e dança. Reina a concertina e os cantares ao desafio. As tascas e os farnéis alimentam a alegria e o sentido de pertença a uma cultura de festa, onde se negoceia o religioso, o lúdico e as sociabilidades dos romeiros.
- Não sendo hoje tão comum a prática de caminhar em direção ao santuário pelos trilhos das montanhas e vales das serras, por terem melhorado a mobilidade e os acessos, esta caraterística ainda define o espaço da festa e a experiência da romaria. Os quartéis ali estão para comprovar a necessidade de acomodar os romeiros, nas novenas e dias de festa. As serras eram cruzadas através dos sendeiros praticados pelos pastores no quotidiano, mas mais alargados na festa anual. Ir à Peneda, era ter esta experiência da montanha, do percurso, da exigências e dificuldades que obrigavam a conhecer cada lugar da montanha, para, depois, sentir a felicidade da entrada no terreiro do santuário.
A romaria de Nossa Senhora da Peneda, nos primeiros dias de setembro, é a celebração da fé no poder do milagre; a partilha da experiência da festa; e, ainda, a capacidade de entender e praticar a montanha.
Santuário e edificado
A ancestralidade da primeira ermida, suposta no século XIII, traz a identidade religiosa e cultural da Idade Média, mas vai-se adaptando conforme aumentam os romeiros. Para o local convergem as riquezas necessárias que lhe vão dar o prestígio expresso na monumentalidade do atual Santuário. O templo vai ser reformado no século XVII, adquirindo a forma atual nos séculos XVIII e XIX. Nos séculos XX e XXI fez-se mais intervenções nos edifícios e espaços já existentes, melhorando-os, nomeadamente na construção da torre que faltava, no restauro dos quartéis, adaptando alguns a serviços turísticos, ou reorganizando a funcionalidade dos espaços exteriores e urbanos.
O conjunto do Santuário é composto pelo:
- Templo, ou igreja principal, iniciado em 1838 e finalizado em 1857.
- Escadório defronte ao templo, chamado de Escadório das Virtudes, obra de 1854, que apresenta estatuária representativa da Fé, Esperança, Caridade e Glória.
- Grande terreiro.
- Terreiro dos evangelistas (de 1860).
- Segundo escadório e suas 20 capelas, com representações bíblicas em estatuária (figuras de vulto) barroca e popular.
- Largo do Anjo S. Gabriel e pórtico principal de entrada, com imagem de Nossa Senhora da Encarnação, ambos realizados no século XVIII.
- Templo, ou igreja principal, iniciado em 1838 e finalizado em 1857.
- Escadório defronte ao templo, chamado de Escadório das Virtudes, obra de 1854, que apresenta estatuária representativa da Fé, Esperança, Caridade e Glória.
- Grande terreiro.
- Terreiro dos evangelistas (de 1860).
- Segundo escadório e suas 20 capelas, com representações bíblicas em estatuária (figuras de vulto) barroca e popular.
- Largo do Anjo S. Gabriel e pórtico principal de entrada, com imagem de Nossa Senhora da Encarnação, ambos realizados no século XVIII.
O conjunto tem clara influência do Santuário do Bom Jesus do Monte, Braga, numa arquitetura barroca e neoclássica, reproduzindo o conceito de ‘Monte Santo’.
A igreja, neoclássica, tem planta retangular, composta por uma nave, de cinco tramos. A fachada principal do tipo fachada harmónica, com corpo central rematado em frontão triangular e de dois registos tripartidos, tem ordens arquitetónicas distintas, dórica no inferior e jónica no superior. O retábulo-mor é neoclássico, de planta convexa e um eixo.
O contexto territorial da romaria
Situando-se este Santuário da Senhora da Peneda no complexo montanhoso de Castro Laboreiro, Peneda, Soajo, integrados no Parque Nacional Peneda-Gerês, a beleza da paisagem que o envolve, ecologicamente rica e diversa na orografia e nos biossistemas, dá-lhe uma outra dimensão estética. Rodeado por arquitetura vernacular, entre povoamentos pobres e de difícil acesso, a presença de um santuário com a qualidade e dimensões como as do templo, escadórios e capelas, surpreendia e surpreende os romeiros e visitantes. Para mais, não está no alto da montanha, mas no sopé de um rochedo (daí o seu nome), com uma envolvente paisagística própria dos santuários da época moderna, com parque e arvoredo programados, ao lado dos espaços mais livres e florestados, que a água abundante fertiliza. Estamos num ambiente cativante para o deslumbramento e, ao mesmo tempo, convidativo para o retiro espiritual, de tão forte carga sagrada se reveste a natureza cheia de lendas e promessas.
Isolado como está, criou as condições para acolher os romeiros nos dias da festa, os devotos que permaneciam ali durante o tempo das novenas. Os santuários de montanha com construções para albergar os romeiros, chamados de quartéis, são comuns. Diferente é a quantidade e grandeza desses quartéis, como acontece aqui na Peneda. Muitos romeiros vinham só para os dois dias principais da festa, em setembro; mas outros vinham para assistir a todos os atos religiosos que as preparavam, ficando, os que vinham de mais longe, nos quartéis. Os percursos seguiam os trilhos dos pastores e das trocas entre freguesias de montanha, entre montes e vales, e estendiam-se por outros, consecutivamente, conforme a origem dos romeiros. Os do Vale do Lima subiam o Soajo, a Gavieira; ou, vindos dos Arcos, passavam o Mezio; os romeiros do Vale do Vez superior seguiam por Paradela, Sistelo, e cruzavam o monte pela Branda do Cando e Monte da Peneda; pelo Cando vinham os de Monção, enquanto os de Melgaço passavam por Lamas de Mouro. Em dia de romaria, todos os caminhos convergiam para o Santuário da Peneda!
Destaque
Destaca-se este Santuário pela envolvente ambiental do local onde se implanta, como já vimos. Mas a sua importância espacial está ainda no facto de por perto dele passar um caminho que ligava várias casas de monges cistercienses, desde o mosteiro de Ermelo, junto ao rio Lima, ao mosteiro de Santa Maria de Fiães, na freguesia de Melgaço com o mesmo nome, até ao mosteiro de Santa Maria de Oseira, já na Galiza. Esse trajeto foi transformado numa Rota Cultural, com o nome Rota Cisterciense do Alto Minho-Galiza.
O impacto da festa da romaria deste Santuário, o local inóspito da localização e a capacidade económica da Confraria de Nossa Senhora da Peneda estão por detrás de uma novidade, à época: a eletrificação do terreiro e santuário! Ainda não havia qualquer serviço de eletricidade nas terras próximas do Santuário e a Confraria mandou construir uma central de produção hidroelétrica para ter luz durante as festividades. A água estava disponível e a posição altaneira do lago permitia ter a força de queda necessária para produzir eletricidade. E isto aconteceu bem antes dos grandes centros produtores de eletricidade, como a estabelecido no Lindoso (Paradamonte) com a Eletro del Lima. Para além da novidade, realce-se a ousadia da decisão e a capacidade de a executar. O arraial da noite da romaria da Senhora da Peneda tinha fama e sucesso. Os romeiros e participantes viviam a ‘grande noite’ lúdica; e ter um espaço iluminado, entre montanhas, quando a maioria das pessoas não tinha qualquer experiência da luz elétrica, vindos de brandas e inverneiras, seria uma experiência inesquecível!
Contactos
Gavieira, Arcos de Valdevez ( Viana do Castelo )
41.97466812020112,-8.22312550296518 (Ver mapa)