Romaria de Nossa Senhora da Cabeça
Data: 31 de março a 2 de abril
Na freguesia de Cortes a celebração da Romaria de Nossa Senhora da Cabeça está profundamente associada à continuação das festividades pascais. É preciso realçar que o culto a Nossa Senhora da Cabeça é um dos mais celebrados no Alto Minho, abundando as capelas e altares com esta invocação.
Na terça-feira após a Páscoa, porque muitas vezes ao domingo de Páscoa era preciso a segunda-feira para completar a famosa ‘Visita Pascal’ ou ‘Compasso’, são muitos os romeiros de Nossa Senhora da Cabeça no seu santuário, no lugar de Bouças, freguesia de Cortes, Monção.
A dimensão da crença nesta invocação mariana é muito visível e até gráfica, seja nos ex-votos, seja na própria imagem da Senhora. Os problemas da cabeça, desde as dores de cabeça às perdas cognitivas, são lembrados em pedidos e cumprimento de promessas. Também facilmente percetível é a dimensão lúdica e convivial. Em tempos de celebração das festas pascais e do início da primavera, para aqui acorrem inúmeros romeiros, de Portugal e da Galiza. É esta romaria muito tradicional nesta região, participando nela milhares de pessoas. O cumprimento de promessas à Senhora da Cabeça é constante, havendo um misto de celebrações simultâneas: à volta da igreja e dentro, os devotos confiam-se à Virgem. Nas imediações, no terreiro, são os festejos lúdicos, a partilha de petiscos, o convívio debaixo das árvores e da grande carvalheira. A noite de verbena é a grande festa, já célebre para os que demandam Cortes neste dia. Ali os concertos de bandas, de grupos famosos, portugueses e galegos, mostram o quão importante e valorizada é esta romaria. Por vezes parece que as festividades de Páscoa são uma preparação para o grande dia da Senhora da Cabeça. É uma romaria para rezar, levar à volta da capela um ex-voto de cera representando a cabeça, mas é também uma romaria para a festa familiar, pois muitos vêm de longe para estarem com a família nestes dias, na comensalidade e partilha das novidades da vida.
Edificado
A Capela de Nossa Senhora da Cabeça, na freguesia de Cortes, Monção, segue a tipologia arquitetónica religiosa de uma nave longitudinal, com planta em forma de cruz, com a abertura de duas capelas laterais de cada lado da capela-mor. A torre sineira, de forma quadrada, de tamanho não proporcional à igreja e fachada, está adossada ao lado esquerdo (do lado do Evangelho). O campanário é vazado por grandes aberturas, com belíssimo coroamento em cúpula de curuchéu bolboso. Na fachada, sobre a janela retangular que encima a porta principal existe um nicho com a imagem da Senhora da Cabeça.
No interior sobressai o singelo retábulo oitocentista do altar mor, onde está a imagem da Senhora da Cabeça. De destacar o crucifixo sobre uma pia batismal de pedra, com uma belíssima imagem de Cristo Crucificado. Várias são as imagens de diferentes invocações de Nossa Senhora, de Cristo e santos que integram os andores processionais, adornados a flores naturais. Todo o terreiro da capela é murado, delimitando o espaço sagrado e o restante terreiro festivo.
Contexto territorial da romaria
Paisagem e ecologia do rio Minho
O terreiro do Santuário de Nossa Senhora da Cabeça situa-se nas proximidades do rio Minho. As condições aprazíveis deste terreiro, com seu arvoredo protetor, fornecem um ambiente privilegiado para a romaria. Mas insere-se este espaço na proximidade do rio Minho e de excelente património geológico.
Nesta freguesia de Cortes encontramos geossítios interessantes, como os seus terraços fluviais, compostos por níveis de conglomerados com calhaus de quartzito e quartzo, mostrando as etapas de evolução do Vale do Minho; ou outros conglomerados de forte compactação e natureza siliciosa. Desde o alto da montanha, onde impera o granito de Monção, ate aos terraços fluviais, a nível geológico, passando pelos ecossistemas ribeirinhos, de grande variedade arbustiva e floral, até às espécies do rio, tão rico e produtivo, é o Vale do Rio Minho um território mágico e de excecional beleza. E resumindo tudo isto, a mão do homem na construção das pesqueiras, aproveitando a geomorfologia fluvial, o encaixe do rio, provocando a formação de marmitas de gigante e as correntes fortes. Este património sociocultural, material e imaterial nas artes de pesca utilizadas, como o botirão e a cabaceira, está na base de importantes pratos da gastronomia local, desde o sável, a lampreia e o salmão. Do rio vem o peixe, da montanha as carnes, onde se destaca o borrego assado no forno, nas encostas e campos o vinho alvarinho.
Está esta paisagem cultural gastronómica presente na mesa dos romeiros, na alegria do convívio e da festa. É o terreiro, a paisagem a fruição da beleza do entorno a chamarem o romeiro à Senhora da Cabeça, para celebrar a fé em Deus e a confiança no convívio humano.
Destaques
A comensalidade na romaria
Não há romaria sem os rituais de comensalidade, onde a família, os vizinhos e amigos confraternizam à volta de um abundante repasto, nas envolvências dos terreiros dos santuários e capelas. A refeição ritualizada acontece por duas ordens de razões: i. porque normalmente o local da romaria se situava longe da residência e a jornada obrigava a permanecer fora de casa nos períodos das refeições principais, sendo, por isso, os romeiros obrigados a carregar consigo alimentos já confecionados e outros a cozinhar (normalmente assados ou cozidos nos fornos disponíveis no terreiro da festa); ii. a outra razão é ser difícil pensar a festa e a romaria sem a refeição ritual, sem a abundância da comida, tendo ela também uma função dentro dos rituais sacrificiais no passado, e agora um valor social, quase sacral, na medida em que na refeição conjunta os romeiros dão por completo o ritual religioso.
Na Senhora da Cabeça, Cortes, Monção, esta refeição no terreiro é uma já longa tradição. Para ela concorre a gastronomia local. Monção tem uma gastronomia de eleição focada no salmão, lampreia, sável, na galinha, vários fumeiros e no "Cordeiro à Moda de Monção” (chamado aqui de "Foda à Monção”). A lampreia apresenta-se sob várias receitas. Por vezes nos terreiros de festa ela é apresentada em escabeche (como o Sável). E como é festa, não faltam os doces de feira, as rosquilhas/roscas e papudos, os sonhos. E tudo isto acompanhado pelo inultrapassável alvarinho!
Contactos
Freguesia de Cortes, Monção ( Viana do Castelo )
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