Romaria de Nossa Senhora da Agonia
Data: 20 de agosto
Se há romaria que merece o nome de romaria, essa será a da Nossa Senhora da Agonia, celebrada no dia 20 de agosto! É a grande romaria do Minho e pelo número de gente que atrai, será a maior romaria de Portugal. E tudo começou com uma pequena celebração penitencial entre o Convento Franciscano de Santo António e o antigo Morro da Forca. Eram rituais de penitência e devoção associados à Via Crucis, o percurso de Cristo para o sacrifício da Cruz. A Senhora da Agonia é essa mãe sofredora que assiste à dor e morte do seu filho. Uma dor experimentada pelos pescadores, na dura vida do mar, tantas vezes concluída na própria morte, entre ondas revoltas. Constrói-se então uma capela, em 1674, invocando o Bom Jesus do Santo Sepulcro do Calvário, próxima a uma outra com invocação de Nossa Senhora da Conceição. A devoção à Senhora da Agonia inicia-se em 1751, quando, na Capela do Bom Jesus, onde terminava a Via Sacra, é colocada uma imagem da Senhora. É a essa mãe que os pescadores se ‘agarram’ e prestam devoção. Mas a romaria verdadeiramente só começa em 1772, quando os pescadores de toda a costa norte, inclusive da Galiza, a assumem como padroeira, entregando-lhe parte dos lucros da pesca. Em 1783 a Sagrada Congregação dos Ritos autorizou a celebração anual da Festa. Esta tradição vai crescer, desde a Ribeira de Viana do Castelo até à cidade burguesa, desde os pescadores aos comerciantes e homens de poder. Com o tempo juntam-se-lhe as célebres feiras, os espetáculos mais variados e inovadores, os desportos, a exuberância da ornamentação das ruas e praças, ou seja, toda a vida religiosa, social e cultural de Viana do Castelo.
Na atualidade, o brilho desta romaria é de todos, entre as romarias, o mais reconhecido. Aos cortejos e procissões (onde se destaca a Procissão ao Mar), aos outros rituais religiosos, aos arraiais e folguedos, às feiras e espetáculos, juntam-se multidões de romeiros. Há cartazes indiscutíveis: a exibição da mordomia, entre as cores dos trajes em verde, amarelo, vermelho, roxo e preto, com os peitos bordados a ouro; os belíssimos tapetes de sal da Ribeira; a famosa Revista de Gigantones e Cabeçudos, na Praça da República, por volta do meio dia.
Muita arte, muita cultura e tradição, muito folguedo, mas, no coração da romaria permanece a imagem da Senhora da Agonia e o voto dos pescadores que a ela se confiam!
Edificado
O templo do Santuário de Nossa Senhora da Agonia insere-se num espaço sagrado que evoluiu ao longo do tempo, desde a primeira capela dedicada ao Bom Jesus do Santo Sepulcro do Calvário (Capela de Nossa Senhora da Soledade), passando pela capela de S. Roque, a capela de Nossa Senhora da Conceição, até à atual igreja santuário de Nossa Senhora da Agonia, de 1700. Parte da grandiosidade e harmonia do templo deve-se à sua inserção no espaço envolvente, como se todo o Campo da Agonia convergisse para aquele escadório e porta principal do templo. Depois deste cenário atrativo, a torre sineira, situada atrás da capela-mor e destacada do corpo da igreja, domina aquela parte da cidade de Viana do Castelo, sinalizando o domínio do espaço sagrado. Para este local convergia o olhar dos pescadores e homens do mar, de tão altaneiro se encontra. Trata-se de uma igreja de uma só nave, de forma octogonal, onde tudo converge para o altar-mor. À traça do retábulo do púlpito e do órgão, num barroco rocaille, junta-se o cenotáfio da Paixão de Cristo, desenhado por André Soares. Tudo contribui para a sumptuosidade merecida pela Senhora Padroeira. Os quatro altares laterais, próximos do arco do cruzeiro, em talha mostram telas representando cenas da Paixão de Cristo.
A beleza da fachada, num barroco tardio, mostra-se pela conjugação do grande portal, com abertura em ‘asa de morcego’, encimado por um óculo lobulado e um nicho com a imagem da Padroeira. O escadório, que acolhe quem visita o templo, é também uma imagem marcante do templo.
Contexto territorial da romaria
O Santuário está situado numa zona que anteriormente era um descampado, lugar aberto por onde se podia peregrinar, numa Via Crucis com fim na Capela do Bom Jesus do Santo Sepulcro. Não era o templo principal da cidade e pouca capacidade tinha para se afirmar nas celebrações religiosas do burgo. É a profunda ligação da comunidade piscatória a este espaço e à imagem de Nossa Senhora que vai permitir o crescimento desta festividade no espaço e imaginário vianense. Há, assim, uma relação espacial paradoxal, entre o centro da vila burguesa e a zona da ribeira, vivida pelos pescadores. O espaço aberto, o terreiro, vai atrair o comércio, as feiras e as festividades religiosas e civis. Por sua vez, a religiosidade popular ultrapassa as pessoas da cidade, atraindo as gentes do mar e do campo. Com o tempo, o diálogo entre os dois espaços, entre uma comunidade burguesa e uma outra popular e piscatória, vai alargar-se às aldeia vizinhas, atraídas pelas graças da Senhora da Agonia e pela possibilidade de viver uma romaria popular na proximidade da vida urbana. E desde sempre a romaria de Nossa Senhora da Agonia faz esta ligação, entre o popular e o erudito, entre a fé e a exibição cultural, entre o maravilhamento da exibição das tradições populares, nas vivências do campo, do mundo rural e dos trajes, e as vivências da cidade burguesa. A sofisticação que a dado momento acontece no adorno das ruas e praças da cidade, na organização de eventos desportivos e exibições artísticas de membros das classes mais eruditas é a apropriação do prestígio já adquirido pela romaria popular. Milhares de forasteiros, a partir do momento em que é inaugurada a linha do comboio, chegam a Viana do Castelo, fazendo desta romaria o primeiro grande cartaz turístico de Viana do Castelo. Ainda hoje esta relação entre o popular e o erudito, na apropriação da cultura e religiosidade popular por estratégias urbanas, definem uma parte significativa do que é a Romaria de Nossa Senhora da Agonia.
Destaques
Os tapetes da Ribeira
Na noite de 19 para 20 de agosto, ou já na madrugada do dia 20, dia da Procissão ao Mar, as gentes da Ribeira esmeram-se na criação de um dos tapetes ornamentais em sal mais espetaculares de Portugal. Organizam-se por ruas e comissões de vizinhos, preparando desde muito cedo os temas e materiais para construir os desenhos florais e geométricos que vão encantar os romeiros e receber o andor da sua padroeira. Ouvindo os votos desta gente, logo se entende a paixão e devoção pela ‘sua’ Senhora. Ninguém como a gente da Ribeira, de tradição familiar ligada ao mar, para saber amar e dar provas de amor à Senhora da Agonia. Gente que ama a sua família e a defende a todo o custo, indo buscar ao mar o sustento difícil. Mas gente que tem outros dois amores: a Senhora da Agonia e o ‘Frade Santo’, o Frei D. Bartolomeu dos Mártires, arcebispo que foi de Braga e ali fundou o Convento de S. Domingos, onde terminou os seus dias. A recente canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires foi também uma homenagem à fé desta comunidade.
No passado eram os tapetes realizados em material vegetal. Com ‘verdes’ e flores, como a tradição manda. Mas a época da festa, em finais de agosto, não é favorável à abundância de flores! Ainda se fizeram de outros materiais, como serrim ou borras de café, para além dos artefactos do mar, como as redes. Mas hoje são feitos de toneladas de sal! Pintado o sal das mais variadas cores e colocado em formas de metal, com diversos motivos, dá-nos uma mensagem do amor e fé dos devotos na Senhora da Agonia. Quando no dia da Procissão ao Mar o andor da Padroeira passa sobre eles, os fatigados construtores recebem a gratificação que esperavam: uma troca de amores e de confiança que nunca mais acaba!
Contactos
Viana do Castelo ( Viana do Castelo )
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