Romaria da Senhora do Livramento
Data: 30 de julho
Acontece esta romaria em finais de julho, de cada ano. A imagem de Nossa Senhora do Livramento não se impõe pela grandeza do tamanho, mas pelo reconhecimento que os crentes de Formariz e os romeiros das terras vizinhas lhe dão, por atender aos seus pedidos. A origem do santuário e romaria está também envolta em lendas, pois terá sido a experiência vivida por emigrantes no Brasil, com um grande réptil, a fazerem o voto à Senhora do Livramento que os havia livrado da morte.
Aqui vinham e vêm muitos peregrinos a pagar as suas promessas, depois dos pedidos formulados para serem socorridos e ‘livrados’ de tantos males. No tempo das guerras coloniais era este o local onde as famílias se ‘apegavam’ a pedir à Virgem o ‘livramento’ da tropa, tal era o receio de não verem regressar os filhos da guerra colonial.
A vida está cheia de problemas e males, uns maiores do que outros, mas nenhum deles impossível de ser resolvido pela Mãe de Deus, Nossa Senhora do Livramento. As ofertas cumprem-se no templo, mas também no percurso da procissão, onde muitas outras imagens da virgem e dos santos padroeiros, colocadas nos andores adornados em flores, são levadas aos ombros. A música e a presença do Rancho Folclórico das Lavradeiras de Formariz, embelezam a festa e as orações dão prova da fé desta comunidade.
No final o momento mais esperado é o do ‘Adeus à Senhora do Livramento’, entre cânticos acompanhados pela música das bandas filarmónicas. Ao contrário de outras romarias, a ‘Despedida das Bandas’ não é apenas um momento musical, mas é também religioso, pois as mordomas trazem o andor de Nossa Senhora do Livramento para o adro do Santuário, momento em que todos se despedem das festas e da Virgem padroeira. Um momento de grande emoção e uma manifestação de fé na padroeira da festa.
Edificado
O Santuário de Nossa Senhora do Livramento tem origem na capela fundada pelos irmãos sacerdotes, Domingos Fernandes, o "Velho" e Gonçalo Fernandes "O Novo", como eram conhecidos, no ano de 1733. As Memórias Paroquiais de 1758 referem-na, sendo os ‘Estatutos’ da Confraria de Nossa Senhora do Livramento criados em 1798. A capela é sujeita a várias obras ao longo do tempo, com as principais no século XIX. A torre, o coro-alto, os retábulos laterais, são obras do início do século XIX. A salientar o facto da origem da maior parte dos seus construtores, pedreiros e artistas da talha, ser das freguesias vizinhas, o que demonstra a existência em Paredes de Coura e arredores de excelentes mestres canteiros e entalhadores.
A Igreja, de uma só nave, apresenta uma bela fachada maneirista, com um corpo central de várias aberturas harmoniosas, desde o portal de entrada aos dois janelões superiores, antes de terminar no topo do frontão, em volúpias compósitas. O retábulo-mor, neoclássico, entroniza a imagem de Nossa Senhora do Livramento. O Coruchéu bulboso da torre é mais uma demonstração das belíssimas torres sineiras que povoam o território de Paredes de Coura.
Contexto territorial da romaria
Trata-se de mais uma romaria devocional à Virgem Maria, sob a invocação de Senhora do Livramento. Havendo muitas ermidas medievais reconvertidas em santuários cristológicos ou marianos, nos séculos XVII e XVIII, eles adquirem significativo papel de romagem na crença de proteção e no poder miraculoso dos respetivos padroeiros. Havendo na origem uma narrativa lendária, como seja a de os seus patronos terem feito a promessa de construírem o Santuário, caso fossem livres da morte aquando do avistamento de um animal selvagem nas florestas do Brasil, neste caso uma enorme lagarto (uma cobra ou outro animal fantástico, como eram descritos muitos dos animais das florestas brasileiras e principalmente da amazónia), associa-se a este Santuário visões do mundo exóticas e fantásticas, comuns a outros santuários, como o da Senhora do Alívio, Vila Verde. Livrar de todos os males, é o poder atribuído pelos romeiros a esta Senhora do Livramento. Paredes de Coura tem inúmeras capelas e igrejas de grande atracão de romeiros, havendo a necessidade de novas invocações e novos santuários, com qualidade arquitetónica assinalável, como o da Igreja do Ecce Homo, de Padornelo. A dimensão do exotismo, e a de espaço privilegiado por uma arquitetura distinta, diferenciava este santuário de outros com rituais populares, como o da festa a Nossa Senhora da Purificação, Senhora de Irijó.
Tratando-se da União de Freguesias de Ferreira e Formariz, destacamos as inúmeras capelas e lugares devocionais: festas em honra de S. Silvestre; Santa Marinha; Senhora da Conceição; e S. Mamede. As capelas de S. Francisco, de Santo António, da Senhora dos Remédios, do Senhor da Cana Verde e de Santa Marinha, todas em Ferreira. Ou as festas em honra da Senhora de Irijó e Santa Ana, em Formariz. Um território povoado de templos e festas, marca da religiosidade e do património local.
Destaque
Associado ao património religioso e à arquitetura religiosa pode estar a arquitetura civil, tão rica nestas duas freguesias, como sejam as: Casas da Seara, do Anjo e do Paço, em Ferreira, ou a Casa de Mantelães, em Formariz. Esta última, também chamada de Palacete Miguel Dantas, o seu promotor, para além da riqueza patrimonial de casa criada pela fortuna brasileira, de estilo neoclássico, mas também com arcaísmos medievais, na busca do prestígio e enobrecimento familiar, foi residência, por algum tempo, do antigo Presidente da República Bernardino Machado, genro do construtor do palácio. Ele herdou, por casamento, várias casas e quintas em Paredes de Coura, uma das quais, a Quinta do Amparo, em Romarigães, deixou a seu genro, o escritor Aquilino Ribeiro. Dessa experiência nasceu o célebre romance "A Casa Grande de Romarigães”. Não estranha esta relação entre os santuários de grande arquitetura e as famosas casas de brasileiros e herdeiros proprietários. Paredes de Coura tem esta singular relação entre o tradicional, a fé ritualizada do povo, em suas romarias, e as casas de uma elite cosmopolita, ligada ao poder político, à cultura e a ideias progressistas. Um dos seus abades sintetiza esta complexa relação: o célebre abade de Padornelo, padre Casimiro Rodrigues de Sá. Homem da igreja e homem progressista que, por sinal, manteve, na Casa de Mantelães, relações próximas com Bernardino de Machado.
Contactos
Freguesia de Formariz, Paredes de Coura ( Viana do Castelo )
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