Peregrinação a Nossa Senhora do Faro
Data: 15 de agosto
A Festa da Senhora do Faro é uma peregrinação que traz devotos e peregrinos de todo o concelho de Valença e arredores. Acontece cada ano no dia 15 de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora. Como festa religiosa que é, tem um caráter sacrificial com a ida em procissão penitencial, desde a Igreja da Colegiada de Santo Estêvão, dentro da fortaleza de Valença, até ao alto do Monte do Faro. O cortejo penitencial sai por volta das 08h00 e chega por volta das 11h00. O percurso é feito em oração e os milhares de peregrinos cantam e rezam, orientados pelos organizadores do cortejo litúrgico. Durante o percurso o caminho da peregrinação é ornamentado com flores e até tapetes florais, feitos pelos habitantes das vizinhanças, das freguesias de Valença, Ganfei e Gandra.
Chegados ao magnífico recinto e parque de Nossa Senhora de Faro, encaminham-se para a igreja para cumprir os votos e promessas ou para o altar da celebração da Missa Solene, finda a qual dão azo ao convívio através do seu já célebre piquenique. E é tradição estar no farnel deste piquenique o cabrito assado no forno a lenha, não fossem os montes vizinhos pasto de caprinos e ovinos.
A Senhora do Faro é lugar de romaria e peregrinação pela crença no seu poder milagroso, como a própria lenda o testemunha, mas também pela beleza do espaço do seu parque, cheio de água e belo arvoredo, acolhedor e majestoso. E é esse ambiente de fé e o prazer de conviver em lugar tão acolhedor, a razão para todos permanecerem pela tarde dentro em convívio e festa.
Edificado
A capela da Senhora do Faro é um templo maneirista de nave única. A capela-mor, mais baixa e estreita, tem um teto de madeira em caixotões. Realçamos o coro-alto, púlpito, altares laterais e retábulo-mor em talha barroca. É de referir as imagens de Nossa Senhora, tida por muitos como milagrosa, de São Bento e Santo Amaro; a muito devota imagem de Santo Cristo Crucificado e as imagens de Nossa Senhora do Rosário e Santa Ana. O templo domina o Parque do Monte de Faro.
Pensando na lenda aqui tratada, olhemos para a imagem de Sant’Ana que tem a seus pés a Moura Convertida, onde consta a data de 1707. A mãe de Nossa Senhora cuida de uma Moura e não da sua filha! Se a lenda mostra o grilhão do habitante de Valença preso em terras da mourama, salvo pelo milagre da Senhora do Faro (Senhora do Carmo), a capela dá-nos a moura convertida, já sob proteção da figura tutelar de Sant’Ana.
Foram os monges beneditinos a fundar a ermida que deu origem a este santuário. Mais tarde é integrada na Colegiada de Santo Estevão, de Valença.
Contexto territorial da romaria
O Santuário da Senhora do Faro é mais uma das profundas alterações na arquitetura e no espaço onde foram construídas pequenas ermitérios de conventos e mosteiros. Estes conventos e mosteiros tinham poder administrativo e influência religiosa vasta, não só tinham propriedades e administração de igrejas longe do local onde estavam implantados, como também nas proximidades e fora da cerca conventual. Nessas terras próximas foram erigidas capelas devocionais relacionadas com os patronos das ordens religiosas a que pertenciam (fundadores ou antigos membros). No alto dos montes erguiam pequenas ermidas, afastadas de tudo e de todos, para onde iam em oração penitencial ou em contemplação. Muitas destas ermidas desapareceram com a extinção das ordens religiosas e o fim destas casas conventuais, passando algumas para a posse de particulares, por compra, ou, na maior parte dos casos para a órbita das paróquias ou de instituições ligadas à igreja, como foi o caso da ermida de Nossa Senhora do Faro, que, primeiro, passou a ser uma propriedade particular, para, depois, ser comprada pela Colegiada de Santo Estêvão de Valença. A Colegiada virá a alterar profundamente o templo e o espaço envolvente, transformando a igreja em local de peregrinação e o espaço numa área aprazível de gozo espiritual e lúdico.
Destaque
Colegiada de Santo Estêvão
Para a história eclesiástica e cultural do Alto Minho, a Colegiada de Santo Estêvão ocupa um lugar especial, pois a maior parte dos historiadores colocam-na na origem da Diocese de Viana do Castelo, só erigida na segunda metade do século XX.
Esta Colegiada de Valença pertenceu sucessivamente à diocese de Tui, depois à Comarca de Valença (1381), de seguida ao bispado de Ceuta, passando pelo arcebispado de Braga (1514), até ao bispado de Viana do Castelo (1977). Tudo começou com um conjunto de cónegos da Sé de Tui que se fixam em Valença, no ano de 1381 (Afonso Anes, Álvaro Gonçalves, Martim Barreiros, entre outros.). A Colegiada de Santo Estêvão de Valença foi fundada por D. João Garcia Manrique, juntamente com os cónegos residentes em Valença. Preservou-se por séculos e só teve dificuldades com a extinção dos dízimos, no ano de 1834. Foi das poucas Colegiadas conservadas após a extinção delas, no ano de 1848. Mas não resistiu à extinção de 1869, à qual apenas resistiu a Colegiada de Guimarães.
Atualmente permanece a Igreja da Colegiada de Santo Estêvão, em Valença, de origem românica (século XIII), mas de renovação neoclássica. Nela ainda hoje se pode apreciar a Cadeira Episcopal tardo-medieval (de estilo gótico-mudéjar) dos Bispos de Ceuta, a mais antiga cadeira episcopal preservada conhecida em Portugal. Um património artístico, mas também um património histórico e religiosos do Alto Minho. Desta igreja sai a peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora do Faro.
Contactos
Ganfei, Valença ( Viana do Castelo )
42.01867757648464,-8.596179411828807 (Ver mapa)