Nossa Senhora de Fátima, S. Paio
Data: Agosto
Apesar de não haver uma capela em honra da Senhora de Fátima, na freguesia de S. Paio, concelho de Melgaço, uma das festas maiores da freguesia é a de Nossa Senhora de Fátima, no mês de agosto.
A devoção é recente, como bem sabemos, pois, as aparições da Virgem na Cova de iria só se deram no século passado, em 1917. Mas a crença e a promoção da devoção sob a invocação da Senhora de Fátima espalhou-se por Portugal e pelo Mundo, erguendo-se capelas e altares em seu nome.
Também não é usual ser a Festa de Nossa Senhora de Fátima em agosto, mas o mês responde à época da permanência dos emigrantes em terras de Melgaço. E é esta confluência da fé com a multidão de crentes, residentes e emigrantes, a dar relevância à festividade. As promessas feitas durante o ano em terras tão distantes são cumpridas na terra de onde partiram. Toda a festa está centrada na religiosidade e nas preces e rituais de cumprimento de promessas. E, como é normal, o ponto alto da festa é a ‘Procissão do Adeus’ à Senhora de Fátima, na certeza de ali estarem no próximo ano, em oração e convívio familiar.
Os romeiros da Senhora de Fátima não seguem os caminhos ancestrais, dada a recente devoção e os meios de mobilidade serem outros. Mas não escapa a ninguém o ambiente de romaria e as manifestações de crença e convivialidade a elas associados.
Edificado
O altar da Senhora de Fátima está na Igreja Matriz de S. Paio. Esta é uma das paróquias com mais história do concelho de Melgaço. A sua relação com o Convento Beneditino de Paderne está no nome que teve durante séculos (S. Pelagii de Paterni), depois S. Paio de Melgaço, até o nome atual de S. Paio, já no século XX (1936). A igreja de S. Paio está no lugar do Cruzeiro, ou seja, o monumento religioso, o cruzeiro (século XVI), deu nome ao lugar. O templo foi profundamente reformado em 1930, sendo alargado ao anularem os arcos que o dividiam em três naves. Tratando-se hoje de uma arquitetura religiosa simples e vernácula, muito distante da anterior, ainda possui os retábulos herdados do século XVI e XVII.
Dentro da freguesia há várias capelas, destacando as de Santo André, Nossa Senhora do Amparo e a da Senhora dos Aflitos e seu cruzeiro. Note-se a particularidade de se atribuir a construção a um mestre pedreiro local, Manuel José Gomes ou ‘Mestre do Regueiro’ no ano de 1886. O realce dado ao cruzeiro deve-se à qualidade da construção, esculturas ornamentais e outros ornamentos. Segue a influência galega dos elementos escultórios nos cruzeiros, mas num estilo mais refinado e diverso. A presença de querubins no capitel, coroado por uma ave, e da imagem da Virgem, com manto, na parte superior do fuste, junto com outra escultura, dá-nos conta da complexidade da elaboração do conjunto. O "Mestre do Regueiro” foi um artista de grande qualidade e digno de um estudo mais aprofundado.
Contexto territorial da romaria
As festas a Nossa Senhora de Fátima, pela intensidade que têm nas paróquias cristãs, são normalmente celebradas em maio, dia da primeira aparição no ano de 1917. Se quase todas as paróquias têm uma imagem ou pequena capela dedicada a esta invocação, e muitas das vezes esta invocação substituiu a de um anterior patrono da capela ou altar, há algumas onde adquiriu mais relevância. É esse o caso desta romaria em S. Paio, Melgaço. Por ser no mês de agosto, a festa tem atraído muitos dos emigrantes regressados ao país para as férias estivais. Não tem, por isso, esta festa a organização das outras romarias, nem tantas tradições culturais associadas às mesmas, principalmente as lúdicas. Nas festas à Senhora de Fátima a preponderância dos rituais religiosos é o fator de maior atracão. Concentra-se, assim, a festa junto da Igreja e os devotos mais distantes ali vão em suas viaturas, não havendo caminhos de peregrinação. A quase omnipresença desta invocação mariana nas paróquias portuguesas deixou de lado outras invocações e retirou dos altares imagens e tradições com muita maior tradição na crença cristã. Cumprir as promessas na Cova de Iria, em Fátima, ou numa capela rural de qualquer freguesia não é a mesma coisa para os crentes. Mas quando numa igreja a invocação mariana à Senhora de Fátima adquire maior relevância, são muitos os devotos que nela cumprem as promessas feitas.
Destaque no território
Apesar de não se situar na freguesia de S. Paio, e estar um pouco afastada, destacamos neste território a Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena (originalmente dedicada a Segolène de Albi – conhecida aqui por Santa Seginha ou Seculina), a Matriz de Chaviães.
Trata-se de uma igreja românica (século XII) de âmbito rural, onde a fachada denuncia claramente o românico com o portal de arco de volta perfeita, com arquivoltas e tímpano. Trata-se de um templo românico tardio, simples e de alguma forma austero, sabendo que a igreja teve vários restauros, alterando parte da arquitetura românica anterior. No interior ainda se conservam algumas pinturas murais quinhentistas. Tem uma sui generis representação dos Rei Magos, muito diferente das da época, pois todos aparecem com idade madura e quem representa África não é Baltasar, mas Melchior. Também original é a iconografia de S. Bartolomeu, aproximada à representação ibérica, com o diabo a seus pés. Apesar de haver muitas narrativas associando Bartolomeu ao diabo, raras são a presença deste na iconografia do santo. A figura do ‘Homem Silvestre’ pretende dar uma iconografia mais simbólica e decorativa do tema da fertilidade. Uma imagem com grande significado para os aldeões é a de Santo Antão, protetor dos animais, com a iconografia correspondente onde não falta um porco. A sua origem está claramente associada aos monges do Mosteiro de Fiães.
Contactos
Freguesia de S. Paio, Melgaço ( Viana do Castelo )
42.091677400186896,-8.264652984183806 (Ver mapa)