Festa de Santa Cruz e Romaria dos Andores Floridos
Data: 17 a 19 de maio
Alvarães festejava com grande devoção a sua Festa de Santa Cruz, que no calendário litúrgico normalmente se celebra no dia 14 de setembro. A ‘descoberta’ da cruz, onde Cristo foi sacrificado, no tempo de Santa Helena, mãe do imperador Constantino, é o motivo desta festividade. Mas a igreja de Roma celebra essa festa no dia 3 de maio, com o título de "Exaltação da Santa Cruz”. Com a invocação de "Invenção da Santa Cruz” celebrava-se, na Gália, no dia 13 de maio.
No início do mês de maio, depois das festas pascais, celebram-se muitas festas da Santa Cruz. Um dos elementos comuns é a realização de tapetes floridos, seja no exterior dos templos, por onde passa a procissão, seja no interior, principalmente na capela-mor, com desenhos artísticos florais sofisticados. Florir a Cruz de Cristo, como exaltação da mesma, é o objetivo destas festas, inseridas no ‘ciclo florido’ da primavera, quando abundam as flores.
No caso de Alvarães, a tradição é ornamentar os andores, para além dos tapetes de rua e a ornamentação das 14 cruzes da avenida frontal à igreja matriz. Esta tradição é relativamente recente, pois nasceu no século XX após experimentarem a ornamentação do andor de Nossa Senhora de Fátima, ali peregrina. O pároco e a Comissão de Festas seguiram esta experiência e hoje os ‘andores floridos’ são a imagem mais importante desta romaria minhota. Num primeiro momento, eles são confecionados em casas particulares, dos vários lugares da freguesia, para depois serem recolhidos em cortejo triunfante, de cada um desses lugares para a igreja paroquial. Aí são observados e avaliados por todos. Dois momentos são particularmente vividos, antes da Solene Procissão: i. a vigia noturna de construção dos andores, onde os curiosos circulam pelos vários ‘estaleiros’ onde se concretiza o andor, vivendo a experiência acompanhados de músicas populares; ii. o ato de transferência de cada andor do lugar para a igreja, acompanhados de foguetes e dos grupos de música e Zés-Pereiras. É a primeira visualização pública da arte presente nos andores e do brio de cada lugar! No dia principal da festa saem os andores na procissão, levados aos ombros. Santos e santas devocionados na igreja e a Santa Cruz percorrem a principal avenida da freguesia, junto com anjinhos e os irmãos das confrarias, com seus estandartes, seguidos pelo Palio. O percurso da Procissão é o ponto alto da romaria. Os dias de festa têm outros atrativos, mas tudo converge para a igreja, totalmente florida, onde estão os assombrosos andores para devoção e maravilhamento de todos.
Edificado
A Igreja Matriz de Alvarães tem a data de construção nos inícios do século XX (anos 30). Trata-se de uma obra revivalista, usando modelos góticos e barrocos. Apresenta nave e capela-mor sendo o portal principal, retangular, emoldurado por pilastras laterais em granito. Sobre ele abre-se um janelão, defendido por balaustrada em granito. Por cima deste janelão situa-se um nicho de estilo neorrenascentista, com a imagem do padroeiro, S. Miguel. Remata a fachada com cornija e uma cruz, centrada no portal e nicho. É diferente a torre sineira das outras observadas na região, pois apoia-se numa galilé de quatro pilares, erguendo-se em três andares, terminando, depois das quatro sineiras, numa forma piramidal. A torre sineira está do lado do evangelho, um pouco recuada em relação à fachada principal. No interior, para além das duas capelas laterais neoclássicas, destaca-se o altar-mor com um belíssimo retábulo barroco, estilo nacional, com duas séries de colunas, altamente decoradas. Em dia de romaria dos Andores Floridos, estes são dispostos pela nave com um corredor central por onde passam os devotos e admiradores.
Contexto territorial da romaria
A freguesia de Alvarães esteve ligada ao mosteiro beneditino de São Romão (datado do séc. X-XI) após a reconstrução do mosteiro, muito debilitado no séc. XII com as incursões muçulmanas. A este mosteiro foram atribuídas as terras que hoje preenchem as freguesias de S. Romão do Neiva, Alvarães e Anha. Este vasto território muito contribuiu para a riqueza do mosteiro, dono de outras propriedades no Alto Minho. O pedido dos habitantes de Alvarães para a criação da própria igreja matriz, em 1450, e consequente consciência da identidade comunitária à volta da igreja paroquial, irá lentamente crescer ao longo dos séculos. Só no reinado de D. Manuel, no ano de 1524, é que Alvarães é elevada a paróquia, tendo como anexas as de S. Julião de Freixo e Santa Maria de Ardegão.
Situa-se esta comunidade numa zona de exploração de argilas vermelhas e caulinos, em inúmeras minas a céu aberto, partilhadas com as freguesias vizinhas. A abundância dos caulinos no Couto Mineiro de Alvarães transformou a economia local no século XX, essencialmente agrária e transformadora de cereais, nas azenhas do rio Neiva. Desde as primitivas ‘telheiras’ até aos grandes complexos de extração e transformação da argila vermelha e dos caulinos, a paisagem deste território transformou-se, a nível ambiental e social. Esta parte final do Vale do Neiva, a mais larga e produtiva, situada entre os montes que a separam do Vale do Lima e do Vale do Cávado, adquiriu preponderância económica e industrial no século XX, contribuindo para a origem de primeiro processo de proletarização entre as comunidades deste território. Não se pode dissociar a evolução e importância das festividades de Santa Cruz e dos Andores Floridos do crescimento económico e da centralidade adquirida por Alvarães, inclusive no incentivo dado pela construção da nova igreja matriz, nos anos 30 do século XX. O novo templo e a dinâmica religiosa e social vão aproveitar a grande manifestação de fé ocorrida com a visita e manifestação processional da imagem de Nossa Senhora de Fátima para investir, depois, nas festividades anuais da celebração da Festa da Santa Cruz.
Destaque
Os andores floridos
Pode-se dizer que estes ‘Andores Floridos’ são a razão do envolvimento total da comunidade nas festas de Santa Cruz de Alvarães. A grandiosidade da romaria, em muitos eventos, religiosos, culturais e lúdicos, não seria a mesma caso não houvesse este comprometimento dos lugares da freguesia na construção dos andores floridos. Não se trata de uma promessa de mordomas ou de devotos. Cabe a determinados lugares a responsabilidade de os fazer. Para isso contratam os famosos ‘bordadores’, detentores do saber fazer da arte de ‘bordar’ cada motivo, representação, símbolo ou monumento nos andores. Na verdade, a cada lugar é atribuída a imagem de um santo ou santa e, a forma do andor, que está quase pré-estabelecida de ano para ano. Ou seja, há uma estrutura em madeira e outros materiais (como estruturas feitas em metal) que dão forma ao andor. É o caso do andor em forma de castelo, ou o que tem forma de barca ou os de formas piramidais e esféricas. O que varia é a composição das cores e os motivos bordados. Cada pétala, cada folha, cada vegetal, uns e outros são colados e alguns presos à superfície e forma do andor. No final é a policromia de uma arte popular a brilhar na igreja e na rua, por entre as 14 cruzes do caminho, igualmente bordadas e ornamentadas, na exaltação da Santa Cruz.
Contactos
Alvarães, Viana do Castelo ( Viana do Castelo )
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