Festa de Nossa Senhora das Rosas
Data: 10 a 13 de maio
É a ‘Festa da Senhora das Rosas’ um dos cartazes mais conhecidos das romarias da Ribeira Lima. Todos os anos, no início do mês de maio, multidões de romeiros e curiosos deslocam-se a esta comunidade de Vila Franca do Lima para apreciar os famosos cestos floridos e viver a romaria da Senhora das Rosas. O tempo tem valorizado este património artístico e religioso, pois a comunidade de Vila Franca fez da sua romaria a grande manifestação cultural do mês de maio na Ribeira Lima. No centro da romaria está a devoção secular das mulheres desta paróquia a Nossa Senhora do Rosário, oferecendo-lhe flores, em época em que elas existem por todo o lado. Dos molhos de flores a adornar os altares e colocados nos pés da Virgem, passou-se a levá-las em oferenda processional. E nada como as moças mais novas, na frescura da vida e da beleza da juventude, a levá-las na procissão. Com o tempo e o brio, as mordomas, vestidas à lavradeira e carregadas de oiro, sofisticaram o cesto onde carregam as rosas oferecidas à Senhora, que passou a chamar-se Senhora das Rosas.
Na atualidade, no momento da procissão, para além de todos os quadros performativos de uma normal procissão de romaria, temos a grande exibição dos cestos floridos! Carregados à cabeça pelas jovens mordomas, seguem na procissão um percurso de cerca de quilómetro e meio. Durante o percurso todos admiram a beleza e arte dos cestos, ao mesmo tempo que veem o sacrifício das mordomas que os levam à cabeça, uma vez que em média pesam entre 45 a 60 quilos. As jovens de hoje não têm a experiência de carregar cestos à cabeça e, daí, a dificuldade em levá-los em todo o percurso. Para ajudar, duas outras colegas ladeiam a mordoma, substituindo-se com grande frequência. Algumas das ajudantes, pela perícia e capacidade já provada anteriormente, são especialmente escolhidas e carregam mais tempo o cesto florido. Muitos veem neste ritual uma espécie de rito de iniciação à idade adulta da jovem; ou de ‘apresentação’ à comunidade das jovens em idade de namoro. Seja como for, quase não há jovem de Vila Franca que ao atingir a idade adulta não queira ser mordoma. Este é o desejo de uma vida que a família estima e apoia.
Tem a romaria todos os rituais religiosos previstos e outras manifestações culturais, como exposições e comunicações sobre a história e cultura da terra. E para os arraiais são convidados os artistas mais famosos e requisitados pelos festivaleiros. Está integrada esta romaria nas romarias do ‘ciclo floral’, a abrir as grandes romarias do Alto Minho.
Edificado
Igreja matriz de Vila Franca do Lima é um templo de ampla nave e capela-mor, a fachada ostenta portal retangular e dintel curvo, sobrepujado por um friso simples, seguido de janelão retangular, onde assenta o nicho com a imagem do padroeiro, São Miguel. A organização deste corpo central acentua o pano geral da fachada, onde as pilastras laterais, finas e diretas aos coruchéus, deixam espaço para o contraste entre o branco da maior parte do pano e o corpo central, de pedra.
O frontão é encimado por uma cruz de pedra. A torre sineira, do lado da epístola, é quadrada, em três andares, culminando num pináculo de forma triangular. No interior, a nave orienta-se para a capela-mor, onde sobressai o retábulo rococó. Nas paredes laterais, junto do arco cruzeiro, estão dois altares em talha, do mesmo estilo do altar-mor. O do lado da epístola, de Santo António, está organizado em dois planos, com imagem e alto relevo de Santo António. Logo se seguem outros dois altares, neoclássicos, um deles, o do lado da epístola, embutido na parede do corpo da igreja.
Em dia de Festa da Senhora das Rosas, enche-se o templo de arranjos florais impressionantes, nas cores, formas e dimensões. Estende-se, assim, aos altares a arte dos cestos floridos, dispostos na nave da igreja.
Contexto territorial da romaria
É no vale fértil do rio Lima, quase a chegar à sua foz, em Viana do Castelo, que se situa a freguesia de Vila Franca do Lima. O alvéolo que vai até junto do sopé do Monte de Roques, lendário nas histórias, mas ancestral lugar da origem da comunidade que vai povoar estas terras, de tão fértil e ambicionado, foi palco de jogos políticos e arranjos fundiários entre as famílias ‘honradas’ deste território. Várias foram também as igrejas (ex. a Sé de Braga) e mosteiros (como o de S. Romão, o de S. Cláudio) a administrar estas terras. Sabe-se que no século XIII estava este território de Vila Franca do Lima dividido por duas administrações, a de Gondufe e a de Figueiredo, onde estava a igreja paroquial.
Importa salientar a devoção mariana aqui promovida com a criação da Confraria de Nossa Senhora do Rosário. Uma confraria muito comum em outros locais, decorrente da devoção tridentina, mas que aqui teve a particular diferença de ser a Senhora sempre premiada com flores por parte das donzelas da terra, num ritual transmitido de geração em geração. É, portanto, a fertilidade destas terras, base de uma economia agrícola florescente, a dar a suficiente justificação ao empenho no culto mariano por ocasião da primavera, momento em que a natureza é generosa em flores. E é esta generosidade e o contínuo empenho e criatividade das gentes de Vila Franca a dar origem à romaria que hoje conhecemos.
Destaques
Os Cestos Floridos
Na verdade, não era exclusivo à freguesia de Vila Franca do Lima a tradição dos cestos floridos. Tanto na margem direita do rio como na esquerda, outros locais e paróquias seguiam aquilo que era a tradição dos rituais do ciclo floral. Mas foi a paróquia de Vila França aquela que preservou e evoluiu nessa arte floral a níveis tão exigentes e complexos. Todos sabemos como evoluíram nas últimas décadas estes cestos floridos, onde os motivos, o refinamento e o uso mais diverso de variados materiais vegetais e florais levaram à sofisticação hoje visível nas Festas das Rosas, de Vila Franca do Lima.
Os cestos são construídos num trabalho que envolve toda a família e amigos da mordoma, jovem mulher que atinge a idade de plena maturidade.
O cesto organiza-se da seguinte forma: sobre o cesto de vime arma-se uma estrutura bojuda em material vegetal (normalmente embude), com cerca de um metro e vinte de altura, de forma a que sobre ela se possa trabalhar. No exterior os cestos apresentam três níveis: o primeiro tem na base uma corda floral verde, logo sobre o cesto onde assenta, seguindo neste primeiro nível os temas e símbolos escolhidos pela mordoma e seus colaboradores. Tem esta área cerca de 70 cm e envolve toda a face do cesto com vários temas, enquadrados: edifícios icónicos do concelho, da região ou até nacionais; mensagens e símbolos cristãos, onde podem entrar personagens sagradas; instituições ou personagens do mundo civil, alguém que se queira homenagear. À arte de ‘desenhar’ estes figurados chamam ‘bordar o cesto’. Consiste em aplicar folhas, pétalas e outro material, no bojo, com alfinetes (no passado usavam a fagulha ou ‘pruma’ – caruma - do pinheiro). A composição apresenta-se como uma pintura muito realista, mas é mais uma assemblage, com relevos e nervuras, próprias da composição do material usado. Segue-se uma nova corda vegetal verde, que separa estes painéis de um friso superior, mais homogéneo, composto por desenhos florais (por vezes imitando os tecidos bordados do artesanato local), geométricos e até símbolos que se repetem, como a cruz de Cristo ou as Quinas Nacionais. Todo o trabalho bordado termina num friso de dupla corda vegetal, juntando o verde ao branco. Encima o cesto um bouquet de rosas floridas, junto com verdes e gipsofila. No final, temos um cesto com cerca de um metro e cinquenta, a pesar entre 45 a 60 quilos.
A construção tem o primeiro ato na apanha das flores e material vegetal. Participam nesta tarefa a família e amigos da mordoma. Depois, num espaço da casa, normalmente a garagem ou coberto, faz-se o trabalho do ‘bordador’, o homem contratado pela família da mordoma, o artista que concretiza os temas escolhidos. Garantir o bom ‘bordador’ é meio caminho para o sucesso do cesto! Depois é exibi-lo pelas ruas da aldeia, na procissão, e na igreja, orgulho da mordoma!
Contactos
Vila Franca do Lima, Viana do Castelo ( Viana do Castelo )
41.68216967585296,-8.7371512361236 (Ver mapa)