Festa de Nossa Senhora das Dores e Festa ao Divino Espírito Santo
Data: 1 a 13 de agosto
As festividades a Nossa Senhora das Dores, na sede do concelho de Paredes de Coura, celebram-se no princípio do mês de agosto, dias em que o município promove as festas do concelho. Enquanto festas do concelho, e celebração da Senhora das Dores, esta festa tem um cartaz grandioso, entre o religioso e o profano. Desde a Festa ao Emigrante, os arraias noturnos, com grupos famosos e artistas nacionais, até ao Festival do Folclore tradicional português, e até ao já estabelecido festival "O Mundo a Dançar – Festival Internacional de Folclore”, todos convergem nestes dias para a sede do concelho. Nas festas religiosas sobressai a majestosa procissão em honra da Senhora das Dores.
Já a Festa ao Divino Espírito Santo tem uma longa e nobre tradição. Comemorada no dia de Pentecostes, em junho, é promovida pela Real Confraria do Divino Espírito Santo de Coura, uma das mais importantes irmandades do país, com membros irmãos de terras distantes. Dizem que chegou a ter cerca de 100.000 irmãos confrades. As celebrações são religiosas e nelas destacam-se os rituais penitenciais, sermões e procissão com a representação das Três Pessoas da Trindade Sagrada, figurando na mesma imagem o Pai, o Espírito Santo em forma de pomba e o Filho, crucificado na cruz, sob a pomba. O culto ao Divino Espírito Santo é aqui muito antigo e o papel desta irmandade na história religiosa e devocional do Espírito Santo no Alto Minho, a partir de Paredes de Coura, faz parte do património religioso mais significativo deste território.
O facto de ter aqui nascido, num concelho do interior do Alto Minho, não foi impeditivo para que esta Real Confraria do Divino Espírito Santo tenha propagado por tantas terras a sua influência, sendo a maior confraria portuguesa do Continente. Ela teve, inclusive, influência e irmãos para além do oceano atlântico. Em quase todas as paróquias havia um irmão encarregado de cobrar os pagamentos entre os membros da confraria, que por eles reza missas solenes cada ano.
Edificado
Queremos singularizar, quanto ao edificado, a Igreja da Real Confraria do Divino Espírito Santo de Coura. O templo atual, situado no centro da vila de Paredes de Coura tem origem no século XVII, mas apresenta-se restaurado numa construção barroca da segunda metade do século XVIII, quando o apogeu da Confraria se impôs. Saliente-se o monumental escadório, colocado atrás da igreja, construído em 1886 e de feição clássica. A Igreja tem uma planta longitudinal de uma só nave retangular. A porta principal barroca tem um contorno encimado por volutas estilizadas, sobrepujado por cimalha curvilínea invertida. Sobre o portal abre-se um janelão retangular de moldura simples. No frontão temos a imagem da Trindade num nicho. À direita do corpo da igreja surge a torre sineira, composta por três corpos. Remata a torre uma cúpula bolbosa, circundada por parapeito balaustrado.
O interior do templo apresenta retábulos de talha dourada barroca, esculturas e pinturas de boa qualidade, das quais se destaca a tela do camarim, representando a descida do Espírito Santo. A Igreja é precedida por um belíssimo adro. No plano superior do escadório, encontra-se um cruzeiro seiscentista.
Este templo dedicado ao Divino Espírito Santo, a igreja de maior valor da vila de Paredes de Coura, é mais uma prova da qualidade dos mestres pedreiros e artistas que construíram estes templos nos finais do século XVIII, financiados por devotos e grandes benfeitores.
Contexto territorial da romaria
A Festa a Nossa Senhora das Dores, enquanto festa concelhia, tem um impacto notório em todo o concelho de Paredes de Coura. O investimento nestas festividades são uma celebração da comunidade courense, enquanto comunidade agrária do interior do Alto Minho e comunidade urbana, centrada na sede do concelho. Mas ao serem celebradas no mês de agosto, o município não esquece os emigrantes da terra, com a Festa do Emigrante, convocando todos para um convívio junto do Museu Regional de Paredes de Coura. Desta forma, os elementos patrimoniais rurais são chamados a participar, seja nos trajes e danças tradicionais, seja no cortejo, onde as tradições e saberes do concelho se representam. Por sua vez, todos são convidados a assistir a eventos e exibições musicais de artistas nacionais de grande prestígio. Nas festas congregam-se, assim, o tradicional com o contemporâneo, bem consentâneo com os propósitos do município. Mas todos são também chamados para os rituais religiosos, principalmente na Procissão da Senhora das Dores.
Já a Festa ao Divino Espírito Santo dá aos crentes de Paredes de Coura essa experiência de se integrarem numa fé e comunidade mais alargada. Através da Real Confraria, o povo courense estendeu laços de amizade e de interesse para além das fronteiras do concelho. A nível religioso e patrimonial, esta festa e o seu local surpreendem, pois fazem com que todos vejam nesta celebração a superação de uma vila do interior rural do Alto Minho.
Destaque
Romaria ao Ecce Homo - Padornelo
Romaria ao Ecce Homo - Padornelo
O santuário do Ecce Homo, atualmente Igreja Matriz de Padornelo, Paredes de Coura merece o destaque aqui apresentado. Em primeiro lugar por se tratar de uma devoção à Via Sacra de Cristo no âmbito do tempo pascal, nascida dentro dos espaços monásticos e conventuais, onde o sacrifício e a penitência vivida com o Cristo sofredor convidava à dedicação da vida consagrada e a uma santificação pessoal pela comunhão mística com Deus. Assim, as vias para a conquistar eram através da penitência e desagravo – via purgativa – e a da glória da redenção de Cristo – via contemplativa – específica da comunidade monástica. É a exemplaridade da Idade Média franciscana e os exemplos de Teresa de Ávila e São João da Cruz que vão ser divulgados junto das comunidades cristãs, fora dos conventos, e marcar a piedade de seiscentos e a devoção barroca franciscana, em torno das chagas de Cristo e do seu sangue redentor. E esta devoção vai adquirir particular relevância no século XVIII, multiplicando-se os templos e as procissões dedicadas ao Ecce Homo. Daí os romeiros a estes santuários e a crescente devoção e participação nos rituais processionais afins.
A excecionalidade do templo de Padornelo, num lugar fora do poder e da exibição elitista é de todo notória. Finalizada nos finais do século XVIII (1781, quando se dá a provisão para a bênção da Capela), destaca-se pela beleza da sua fachada do barroco final; pela altura da sua nave, apropriada a receber os altares laterais que ostenta; pela finíssima elaboração da sua porta principal, de influência da escola de André Soares. Conseguir capitais para levantar um templo desta envergadura mostra o quanto prestígio tinha o culto ao Ecce Homo nas comunidades rurais, assim como o poder dos seus benfeitores e contributo dos romeiros. O facto de ter sobre o grande janelão as armas do arcebispo de Braga D. Gaspar de Bragança dá-nos conta de ali ter existido uma autoridade financeira e construtiva que ultrapassa, em muito, o poder local.
Contactos
Padornelo, Paredes de Coura ( Viana do Castelo )
41.91023320476423,-8.562080902968164 (Ver mapa)