Festa de Nossa Senhora D’ Ajuda, Mentrestido
Data: 8 de setembro
A romaria a Nossa Senhora da Ajuda, na freguesia de Mentrestido, Vila Nova de Cerveira, é uma romaria popular, com características de devoção e piedade popular que se realiza a 8 de setembro. Para a freguesia e comunidade de Mentrestido é o grande dia da festa da aldeia, onde os crentes se entregam ao colo da Virgem da Mãe de Jesus, como a imagem da padroeira mostra, acolhendo seu Filho Divino. Uma imagem ao mesmo tempo simples e bela, onde o olhar da Virgem não se cruza com o do menino que está ao colo, num olhar misterioso e triste. Mas é também uma romaria que chama as povoações vizinhas, sejam elas devotas da Senhora da Ajuda, sejam admiradores dos grandes espetáculos das verbenas.
Começa a romaria com missa em honra de Nossa Senhora de Fátima, e "Majestosa Procissão de Velas”, desde a igreja matriz até à capela de Nossa senhora da Ajuda. Seguem-se verbenas, convívios e música para todos os gostos. Salientam-se os grupos de Zés-Pereiras, de várias origens, a convocar os romeiros para a festa. Quando se juntam no recinto da Capela, é o ribombar dos bombos o momento de exaltação da música popular.
No dia principal da festa destaca-se a missa solene e a procissão de Nossa Senhora da Ajuda. É o ritual mais sentido pelos devotos. Estes cumprem suas promessas à Senhora da Ajuda, fazem romaria à volta da capela, agradecidos das graças recebidas, confiantes na ‘ajuda’ dessa Mãe de todos.
No final da procissão solene, a imagem da Senhora é retirada do andor e faz a romaria à volta da capela ao colo de cada um dos membros da Comissão de Festas, passando de mãos sempre que cruzam a entrada principal. Depois entregam-na aos membros da nova comissão, que repetem o ritual, ao som da banda de música. Um ato de carinho e proximidade raramente visto em romarias. Termina a romaria com ranchos folclóricos e grupos musicais.
A Festa de Nossa Senhora da Ajuda é a grande romaria de Mentrestido e arredores. Mas a preparação para esta festa, ao longo do ano, por parte da comissão de festas, é um contínuo organizar de eventos, desde piqueniques, com bolo do tacho ou pão com chouriço, magustos, jogos motorizados, a realização do presépio ao vivo e, ainda, a participação no cortejo etnográfico do concelho. Ou seja, à volta desta romaria passa a vida cultural e patrimonial da freguesia.
Edificado
A Capela de Nossa Senhora da Ajuda (do século XVIII), no alto do Monte do Castelo, é um templo simples, de arquitetura religiosa vernacular. De uma só nave, tem uma fachada onde sobressai a porta principal, retangular, ladeada por duas grossas janelas, muito baixas. Sobre a porta e no meio do frontal da fachada, uma outra janela simples. A fachada é rematada por uma cruz em granito. A torre sineira, posterior, está do lado do evangelho, e é um pouco recuada em relação à fachada. É pequena e de dois lanços, sendo o último um simples campanário, com sino. No interior, o retábulo da capela-mor, neoclássico, acolhe a imagem da padroeira.
Contexto territorial da romaria
A freguesia de Mentrestido está na parte mais montanhosa do concelho de Vila Nova de Cerveira, com estrutura fundiária e organização territorial totalmente diferente da zona ribeirinha ao rio Minho. Estas comunidades marcadas pela vida rural e pela forte emigração, em grande decrescimento demográfico, mantêm uma paisagem tradicional, mesmo que já tenham recebido a influência da emigração e dos contatos exteriores proporcionados pelas novas acessibilidades rodoviárias, designadamente a autoestrada Porto – Valença (A3).
As leiras em socalcos e as matas vizinhas dão a esta paisagem um contraste entre o ar bucólico e o rude. Não estranha haver pessoas do exterior, com experiência de vida urbana, a deixarem-se apaixonar por estas paisagens e pela vida simples da aldeia, construindo ou adquirindo aqui casas para habitação.
Este fenómeno é ainda mais interessante quando contrasta a vida e os objetivos destes apaixonados das ‘novas ruralidades’ com a vida dos locais. O povo rejubila e vive a romaria, entre a devoção religiosa e a fruição da festa popular; os ‘novos rurais’ observam o ‘povo’, deliciam-se com as tipicidades da gastronomia, dos folguedos e o exótico dos rituais religiosos. Não é incomum ver estas duas realidades espelhadas nas formas de estar na festa, entre atitudes, frequência do espaço e reivindicação do estatuto social. Muitos das nossas romarias e arraiais são um campo de observação etnográfica, uma réstia de um mundo a desaparecer em muitos dos seus rituais. Observar e ter a experiência de um ‘resto’ da vida rural e arcaica é, para muitos dos forasteiros, um dos interesses que os trazem ao terreiro da romaria popular, num turismo cultural avant la lettre!
Destaque
O culto, as Verbenas e Arraiais
Os rituais religiosos, novenas, sermões preparatórios, missas solenes, procissões, etc., são o centro da origem da festa, a razão do romeiro demandar um santuário distante de sua casa, para cumprir promessas e celebrar o santo e santa de sua devoção. Mas os espetáculos lúdicos, os concertos e exibições populares de música e dança, o convívio nas tascas e restaurantes do terreiro de festa, são a outra parte imprescindível da romaria.
As romarias de um local distinguem-se das vizinhas ou das mais distantes por várias ordens de razão: a história e vetustez do culto celebrado ao santo da capela ou santuário, o que também se vê pela tradição do ritual; a qualidade do templo, a sua arquitetura, prova de que o culto ali celebrado, o poder miraculoso, atraiu as dádivas dos romeiros que, acumuladas, permitiram o investimento em obras e arte religiosa; a narrativa história e até lendária associada a benfeitores, desde nobres a ‘brasileiros’, que deixaram na obra da capela ou santuário a visibilidade da dádiva, através de ricos parques e templos; e, por fim, a tudo o que anteriormente se referiu, se acrescenta um programa de festas que se singularize pela qualidade e quantidade de artistas e eventos culturais presentes nos dias de festa. Há romarias que se distinguem e são muito frequentadas apesar do templo ser pequeno, distante e sem grande programa festivo. O que impera é a tradição popular, o poder milagroso do padroeiro. Mas, com as alterações sociais e económicas do século passado, nomeadamente apartir da presença de emigrantes, cada terra procurou abrilhantar a sua romaria a níveis impensáveis num passado relativamente próximo. Assim, romarias que já atraíam devotos e tinham alguma tradição local, passaram a adquirir uma relevância assinalável pelo investimento que as comunidades fazem na realização das festas. Através de peditórios, eventos desportivos e convívios organizados pelas comissões de festas nos terreiros das capelas, patrocínios de empresas e desafios de benemerência junto dos emigrantes, tem sido possível atingir verbas assinaláveis para contratar os melhores agrupamentos musicais e variar a parte lúdica com muitos outros artistas convidados. A romaria é, então, valorizada pelo programa de festas que apresenta e capta romeiros e participantes novos, disputados com outras romarias que acontecem no mesmo fim de semana, principalmente durante o mês de agosto. É o caso desta romaria de Nossa Senhora da Ajuda. Uma pequena freguesia rural do interior do concelho atrai os devotos e romeiros, mas também se distingue pela qualidade do programa de festas, na variedade e qualidade dos grupos e artistas.
Contactos
Mentrestido, Vila Nova de Cerveira ( Viana do Castelo )
41.90167,-8.67117 (Ver mapa)