Lenda do Tear de Ouro
Em tempos que lá vão, junto do regato do Martingo, onde existe um penedo com uma grande brecha que ninguém fora, até então, capaz de abrir, ouvia-se um barulho familiar. Parecia o bater de um tear em pleno trabalho. Sempre que ali passavam os transeuntes, ouviam uma labuta ininterrupta, o que levou o povo a acreditar que naquele local morava uma moura encantada! Era de tal forma contínuo o trabalho, que o povo decidiu quebrar o encanto para salvar a pobre da moura de tão pesado fado. Se assim pensaram, logo se reuniram junto do penedo com um entendido no livro de S. Cipriano, para dar início ao desencantamento.
À medida que a leitura ia avançando, o penedo, lentamente, ia-se abrindo, deixando descoberto aos olhares do povo a beleza estonteante de um fantástico tesouro! Maravilhados, fixaram os objetos que eram familiares no seu dia-a-dia, mas que aqui refulgiam na cor do ouro tear, lançadeiras, canelas, pentes, etc. Da moura não havia rasto!
Perante tal visão, resolveu-se deitar mão a tão grande fortuna. O entendido no Livro de S. Cipriano havia dito que não poderia parar a leitura, pois caso tal sucedesse, o penedo fechar-se-ia imediatamente. Assim, um outro homem, que tinha tanto de coragem como de ambição, aventurou-se dentro do penedo, e entregava as peças do tesouro aos de fora. Estavam eles nestes trabalhos, e depois de muita riqueza ter saída do misterioso penedo, quando o leitor, distraído pelo esforço e impaciente na sorte, perguntou:
- Já está tudo fora?
Nesse mesmo momento o rochedo fechou-se, prendendo no seu interior o desgraçado do homem que entrara para resgatar o tesouro!
Ouviu-se então uma voz do interior que dizia:
- Só libertarei o homem depois de restituírem ao penedo o tesouro!
Apavorados, prometeram fazer tudo o que a voz pedira. Assim fizeram, e nunca mais tentaram conquistar o tesouro.