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O Campo da Fome


Conta-se que, há muitos anos, num mês de Maio, aconteceu algo muito estranho lá para os lados de Formariz. Como acontece frequentemente, aquando das lavradas onde participam muitas pessoas, na hora do almoço, as mulheres da casa transportam para o campo em que se está a trabalhar o repasto para todos. É costume estender as toalhas de linho numa sombra mais agradável, e aí sentarem-se os trabalhadores à volta do que sai dos generosos cestos: boroa de milho e de centeio, uns nacos de carne de porco e um caldo de feijões e couves. Tudo isto regado por umas malgas de vinho.

Encontrava-se o grupo da lavrada na tarefa de satisfazer o estômago e descansar as pernas e costas, em alegre cavaqueira, quando se aproximou dele um cão com aspeto de esfomeado! Sentindo-se importunados naquele momento de agradável convívio, todos enxotaram o cão, sem lhe lançar o mais pequeno pedaço de pão!

- Fora cão! Xô...! Vai-te embora! — gritaram os mais incomodados.

O cão não teve outro remédio senão fugir dali. Mas uns passos à frente, voltou-se para trás e, fixando os olhos naqueles que o escorraçaram, caíram-lhe os olhos ao chão! Toda a gente que assistiu ao sucedido ficou perplexa. Nunca tinham visto coisa semelhante antes daquele dia! O cão entretanto desapareceu, mas o último olhar que tivera para com os presentes permaneceu marcado no seu pensamento, de tal maneira que adivinharam logo ali um mau presságio!

Passaram-se os anos e ainda hoje, diz-se, o campo onde aquelas pessoas estavam a trabalhar nunca mais foi o mesmo na produção. O acontecimento marcou tanto as pessoas, que ao campo, quase infértil a partir daquele dia - sendo hoje uma bouça -, deram o nome de «Campo da Fome».

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