Lenda do Rio Âncora - Caminha
Letra: Augusto "Canário"
Música: Eurico Carrapatoso
No tempo em que mouros e cristãos lutavam pelo domínio da Península Ibérica, lá para os lados do Sul, vivia num palácio majestoso Alboazar – um alcaide mouro poderoso. Este, tinha uma filha chamada Zahara, cuja beleza indescritível ganhou grande fama e passou fronteiras, nomeadamente para o lado do inimigo cristão, onde chamou a atenção do Rei de Leão, de seu nome: D. Raimundo.
Como muitas vezes acontecia na Idade Média, na casa dos aristocratas mais ricos, organizavam-se muitas vezes, concertos, festas, representações teatrais, tertúlias, enfim… as mais diversas formas de entretenimento. Para esses serões, o Rei ou o Nobre convidavam para os seus palácios a sua corte e contratavam muitas vezes trovadores, bardos e outros artistas errantes.
É aqui que o D. Raimundo, tomado pela curiosidade em conhecer a rara beleza de Zahara, disfarçou-se de trovador e conseguiu entrar no palácio do alcaide mouro, por ocasião de uma dessas festas. Uma vez lá, deparou-se com a princesa e de imediato se enamorou. A paixão nasceu forte e D. Raimundo seduziu a jovem e fugiu com ela para as terras da Galiza.
Algum tempo passado, Alboazar não havia esquecido a perda e o ultraje. Fez-se ao caminho e resolver utilizar o mesmo expediente do nobre cristão. Também ele se disfarçou de trovador, penetrou numa festa e, com as suas cantigas, encantou Dona Urraca – a esposa legitima do D. Raimundo. Esta, ficou de tal forma enamorada que abandonou marido e filhos e fugiu com Alboazar, rumo ao Sul.
Humilhado pela traição e abandono da esposa, D. Raimundo depressa esqueceu a beleza e encanto de Zahara. Disfarçou-se de cavaleiro e rumou ao castelo de Alboazar a fim de participar num torneio por este organizado. Após o torneio, pelo cair da noite, conseguiu aceder ao quarto do rival, onde prendeu e amordaçou Dona Urraca e o amante. Em seguida, fugiu rapidamente, levando consigo os dois como prisioneiros.
Reza a lenda que, no caminho de regresso para a Galiza, ao passar por Carreço, atravessou um monte, no qual assassinou Alboazar – ficando então o local a ser conhecido como: Monte da Dor – hoje Montedor. Dona Urraca chorou desconsolada a morte do seu amor, o que ainda enfureceu mais o D. Raimundo. Cego pelo ciúme e despeito, logo após descer Montedor, amarrou uma âncora ao pescoço da rainha e lançou-a nas profundezas do primeiro rio que encontrou…
… o tal rio, desde essa altura, passou a ser conhecido como – Rio Âncora.