Lenda das Unhas do Diabo - Ponte de Lima
Letra: Augusto "Canário"
Música: Mário Laginha
Segundo a lenda, havia em Ponte de Lima um escrivão levado do diabo…
Quem passasse pela sua língua, tinha a vida posta a nu. Era difamado na honra e condenado em praça pública, mesmo que isento de culpa. Por isso, este indivíduo era odiado por muitos na vila.
Quando chegou a hora do hipócrita prestar contas a Deus, este convenceu um ingénuo abade a dar-lhe a comunhão e os últimos sacramentos. Pensava que assim recuperaria a consideração dos seus conterrâneos e ganhava o céu. Mas, enganou-se redondamente: não houve um cidadão que lhe fizesse o caixão, quem o enterrasse, ou quem na vila rezasse por ele um Pai Nosso. Por isso, os piedosos frades do Convento de Santo António arranjaram-lhe uma sepultura, sobrepondo-lhe uma pesada laje, pensando que assim ficaria bem enterrado e o assunto encerrado.
Depois da reza das "completas”, antes de dormir recolhidos nas suas celas, e logo após as 12 badaladas do sino, alguém bateu à porta principal.
Toda a gente sabia que, depois da meia noite, reinava o silêncio e a reclusão no convento, mas, por baterem àquela hora de forma tão insistente, os irmãos acorreram à porta, pensando tratar-se de uma emergência.
Era um homem de negra capa, que se apresentou como parente do escrivão, dizendo que desejava ajoelhar-se no seu túmulo para assim lhe rezar as últimas orações. Os frades levaram-no até à sepultura da vil criatura. Chegado a esta, proferindo um profundo rugido, dilacerou a pesada lápide com as mãos. Erguendo-a no ar, rasgou-a em dois, como se fosse uma folha de papel e atirou-a para o fundo da igreja.
Os irmãos, aterrados, recuaram.
O homem da negra capa, com uma mão, pegou num dos cálices do altar e com a outra, no morto escrivão. Levantou-o da tumba, inclinou aquela boca maléfica sobre o cálice, e obrigou-o a lançar boca fora a hóstia que o piedoso padre lhe dera mesmo antes da partida para a outra vida. Extraída a hóstia, agarrou no cadáver como se de um farrapo se tratasse, e levou-o por uma janela, desparecendo na escuridão.
Segundo a lenda, foi Belzebu, que tinha vindo em pessoa do inferno resgatar aquela alma pecadora que lhe pertencia.
Os petrificados irmãos, pegaram então nas duas metades da lage sepulcral e abandonaram-na fora da igreja… a partir daí, todo o povo pôde ver rasgados na dura lage, os sulcos das Unhas do Diabo!…