Lenda das Cinco Badaladas
Era uma vez um homem chamado Bartolomeu, nascido em Lisboa, no século XVI, e batizado na Igreja dos Mártires, de que passou a ser grande devoto.
Bartolomeu era inteligente e piedoso.
Decidiu dedicar-se a Deus e ingressou na Ordem Religiosa dos Pregadores, recebendo o respetivo hábito apenas com a idade de 14 anos, aplicando-se, depois, aos estudos da Filosofia e Teologia, que terminou com êxito.
Instalou-se, então, no Convento de São Domingos de Évora, passando a usar o nome de Frei Bartolomeu dos Mártires, evocador da igreja onde recebera a água batismal.
Na cidade alentejana exerceu um louvável magistério, havendo tido, como aluno, D. António, o Prior do Crato, mais tarde, ainda que por breves tempos, rei de Portugal.
A sua dignidade de sacerdote e a sua sabedoria eram tais que a rainha D. Catarina, mulher de D. João III, o escolheu para Arcebispo Primaz de Braga, o lugar mais alto na hierarquia religiosa da Península Ibérica.
Esta honrosa nomeação foi confirmada pelo Papa.
As suas visitas pastorais, pelas terras esquecidas do Barroso, levaram-no a contactar com uma população miserável e de rudes costumes, que procurou ajudar, em ações generosas e justas.
Quando foi convocado para participar no Concilio de Trento, em Itália, que tinha o propósito de reformar e fortalecer a Igreja Católica, salientou-se pela sua palavra esclarecida e esclarecedora.
Frade dominicano, resolveu, a dada altura, mandar edificar em Viana, então chamada Viana-da-Foz-do-Lima, um soberbo Convento, dedicado a São Domingos.
E, quando já envelhecido, e vendo a coroa portuguesa passar para a cabeça de um estrangeiro, D. Filipe II de Espanha, foi junto do rei rogar-lhe a permissão de renunciar ao seu cargo eclesiástico, a ir albergar-se, destituído de honras e riquezas, naquele Convento vianês, erguido com tanta devoção.
Encerrado numa cela desprovida de qualquer conforto, passava os dias entregue a orações e leituras de obras edificantes.
Mas, de quando em quando, deambulava pelo bairro dos pescadores, ao rés do Convento, acudindo, caridoso, aos padecimentos e angústias daquela gente do mar, que o venerava e a ele recorria, em horas difíceis.
Um dia, porém, o lar humilde e pobre que visitava, não reconhecendo, naquele velho frade, D. Frei Bartolomeu dos Mártires, recebeu-o com desagrado, revoltado, como estava, com a desgraça que lhe caíra em cima: a morte prematura da mulher do pescador, apesar de todas as rezas fervorosas aos Céus, quer do marido, quer da jovem filha, a quem pesavam, agora, os cuidados da casa e os cuidados para com o pai.
Entendeu e perdoou o arcebispo a atitude hostil dos dois infelizes, mas não deixou de lhes recomendar resignação, pondo-se à disposição de ambos para quanto necessitassem; para qualquer súbita aflição.
E, num Inverno mais rigoroso, com o mar sacudido por ventos ciclónicos, chuva e trovoadas assustadoras, eis que a órfã procura o velho frade para que, com as suas preces, ele alcançasse de Deus o favor de um milagre: o milagre do seu pai, arrais de uma companha de mais quatro homens, conseguir fazer que o seu barco, quase naufragado no turbilhão das vagas, galgasse a barra, são e salvo.
O arcebispo, comovido, logo tranquilizou a jovem, garantindo-lhe que, após soarem cinco badaladas no sino do Convento, a pequena embarcação iria varar, intacta, nas areias da praia, trazendo a bordo, também intacta, toda a companha.
Mais: com o fundo a abarrotar de pescado!
E assim aconteceu.
A cada uma das cinco badaladas soltas da torre sineira de São Domingos, aqueles cinco pescadores, exaustos e desesperados, ganhavam uma nova energia, uma nova coragem, que os impelia a remar e remar e remar, até à praia, onde um povoléu em grita era impotente para os socorrer.
Mal soara a quinta badalada, eis que, como D. Frei Bartolomeu dos Mártires havia prometido, o barco, intacto, vara na areia da praia, trazendo, também intacta, toda a tripulação. E com o fundo a abarrotar de pescado!
Desembarcados, os cinco pescadores ajoelharam, agradecendo a Deus tal prodígio.
E, sabendo da boca da filha do arrais quem intercedera por eles aos Céus, livrando-os de tão duro transe, quando a morte lhes surgia, a todo o instante, diante dos olhos aterrados, logo correram ao Convento, a confessarem-se ao arcebispo devedores da graça recebida.
Mas a modéstia de D. Frei Bartolomeu dos Mártires recusou-se a assumir à janela estreita da cela, para lhes receber a gratidão.
Outros milagres, muitos outros, são atribuídos à bondade do velho arcebispo.
Ao falecer, foi enterrado à esquerda do altar-mor da igreja do seu Convento.
Aí, continua a atender os rogos dos pescadores da Ribeira vianesa, quando o mar lhes é padrasto.
Bartolomeu era inteligente e piedoso.
Decidiu dedicar-se a Deus e ingressou na Ordem Religiosa dos Pregadores, recebendo o respetivo hábito apenas com a idade de 14 anos, aplicando-se, depois, aos estudos da Filosofia e Teologia, que terminou com êxito.
Instalou-se, então, no Convento de São Domingos de Évora, passando a usar o nome de Frei Bartolomeu dos Mártires, evocador da igreja onde recebera a água batismal.
Na cidade alentejana exerceu um louvável magistério, havendo tido, como aluno, D. António, o Prior do Crato, mais tarde, ainda que por breves tempos, rei de Portugal.
A sua dignidade de sacerdote e a sua sabedoria eram tais que a rainha D. Catarina, mulher de D. João III, o escolheu para Arcebispo Primaz de Braga, o lugar mais alto na hierarquia religiosa da Península Ibérica.
Esta honrosa nomeação foi confirmada pelo Papa.
As suas visitas pastorais, pelas terras esquecidas do Barroso, levaram-no a contactar com uma população miserável e de rudes costumes, que procurou ajudar, em ações generosas e justas.
Quando foi convocado para participar no Concilio de Trento, em Itália, que tinha o propósito de reformar e fortalecer a Igreja Católica, salientou-se pela sua palavra esclarecida e esclarecedora.
Frade dominicano, resolveu, a dada altura, mandar edificar em Viana, então chamada Viana-da-Foz-do-Lima, um soberbo Convento, dedicado a São Domingos.
E, quando já envelhecido, e vendo a coroa portuguesa passar para a cabeça de um estrangeiro, D. Filipe II de Espanha, foi junto do rei rogar-lhe a permissão de renunciar ao seu cargo eclesiástico, a ir albergar-se, destituído de honras e riquezas, naquele Convento vianês, erguido com tanta devoção.
Encerrado numa cela desprovida de qualquer conforto, passava os dias entregue a orações e leituras de obras edificantes.
Mas, de quando em quando, deambulava pelo bairro dos pescadores, ao rés do Convento, acudindo, caridoso, aos padecimentos e angústias daquela gente do mar, que o venerava e a ele recorria, em horas difíceis.
Um dia, porém, o lar humilde e pobre que visitava, não reconhecendo, naquele velho frade, D. Frei Bartolomeu dos Mártires, recebeu-o com desagrado, revoltado, como estava, com a desgraça que lhe caíra em cima: a morte prematura da mulher do pescador, apesar de todas as rezas fervorosas aos Céus, quer do marido, quer da jovem filha, a quem pesavam, agora, os cuidados da casa e os cuidados para com o pai.
Entendeu e perdoou o arcebispo a atitude hostil dos dois infelizes, mas não deixou de lhes recomendar resignação, pondo-se à disposição de ambos para quanto necessitassem; para qualquer súbita aflição.
E, num Inverno mais rigoroso, com o mar sacudido por ventos ciclónicos, chuva e trovoadas assustadoras, eis que a órfã procura o velho frade para que, com as suas preces, ele alcançasse de Deus o favor de um milagre: o milagre do seu pai, arrais de uma companha de mais quatro homens, conseguir fazer que o seu barco, quase naufragado no turbilhão das vagas, galgasse a barra, são e salvo.
O arcebispo, comovido, logo tranquilizou a jovem, garantindo-lhe que, após soarem cinco badaladas no sino do Convento, a pequena embarcação iria varar, intacta, nas areias da praia, trazendo a bordo, também intacta, toda a companha.
Mais: com o fundo a abarrotar de pescado!
E assim aconteceu.
A cada uma das cinco badaladas soltas da torre sineira de São Domingos, aqueles cinco pescadores, exaustos e desesperados, ganhavam uma nova energia, uma nova coragem, que os impelia a remar e remar e remar, até à praia, onde um povoléu em grita era impotente para os socorrer.
Mal soara a quinta badalada, eis que, como D. Frei Bartolomeu dos Mártires havia prometido, o barco, intacto, vara na areia da praia, trazendo, também intacta, toda a tripulação. E com o fundo a abarrotar de pescado!
Desembarcados, os cinco pescadores ajoelharam, agradecendo a Deus tal prodígio.
E, sabendo da boca da filha do arrais quem intercedera por eles aos Céus, livrando-os de tão duro transe, quando a morte lhes surgia, a todo o instante, diante dos olhos aterrados, logo correram ao Convento, a confessarem-se ao arcebispo devedores da graça recebida.
Mas a modéstia de D. Frei Bartolomeu dos Mártires recusou-se a assumir à janela estreita da cela, para lhes receber a gratidão.
Outros milagres, muitos outros, são atribuídos à bondade do velho arcebispo.
Ao falecer, foi enterrado à esquerda do altar-mor da igreja do seu Convento.
Aí, continua a atender os rogos dos pescadores da Ribeira vianesa, quando o mar lhes é padrasto.
Daí, os abençoa, com o amor da sua mão sempre milagrosa.